CORPOS QUE NÃO MERECEM O REINO DOS CÉUS?

GÊNERO, SEXUALIDADE E RELIGIÃO CRISTÃ EM DIÁLOGO NA ESFERA PÚBLICA

  • Evandro De Godoi UFPEL
Palavras-chave: Discriminação. Fundamentalismo religioso. Escola sem partido

Resumo

A prática religiosa é um direito de todo cidadão garantido constitucionalmente, tendo em vista a existência de um Estado que é laico e abrangente das diferentes manifestações culturais e religiosas. Na sociedade, em diversos espaços há a coexistência plural de crenças. Contudo, percebe-se a apropriação do discurso religioso, sobretudo nos tempos atuais, para fundamentar estratégias e leis que visam a coibir a discussão sobre gênero e sexualidade como tema pertinente ao pleno desenvolvimento dos cidadãos de uma nação. O presente trabalho busca discutir de que forma se materializa nas práticas discursivas a apropriação descontextualizada e tendenciosa da religiosidade cristã para marcar como abjetos os corpos, a saber de pessoas LGBTQ (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e queer). O recorte que interessa a este trabalho, o espaço escolar, traduz-se por lugar de disputa de diferentes concepções sobre gênero, sexualidade e institucionalidade. Projetos como Escola Sem Partido e as argumentações que denunciam a chamada “ideologia de gênero” são exemplos dessa disputa existente na sociedade brasileira. Acredita-se, no entanto, que tais investidas contra a escola pública no tocante essas temáticas são parciais e desprovidas de conhecimento sobre o papel da escola na sociedade. Acredita-se neste trabalho que o horizonte a se construir seja o de uma cultura de paz, onde os sujeitos sejam livres para conhecer a realidade, sua pluralidade e o dever de combater todas as formas de discriminação sociais. A metodologia utilizada para este propósito foi a pesquisa bibliográfica em textos que discutem as temáticas em questão na esfera pública. Traz-se como conceito de esfera pública a teorização de Judith Butler (2018, 2018b, 2018c) que apresenta o público como sendo o espaço comum onde mais de uma pessoa interage. Os resultados demonstram que tanto a sociedade como a escola devem refletir sobre as problemáticas de seu tempo e dar voz aos diferentes sujeitos e suas manifestações de corporeidade. Evidenciou-se que há inúmeros esforços, dentro da própria religião cristã que visam à inclusão de debates sobre gênero, sexualidade e demais temáticas anunciadas pelos fundamentalistas religiosos como intocáveis. Um espaço público livre de estigmas sociais depende do avanço e refinamento da relação entre os sujeitos e suas especificidades e essa tarefa é dever de todos e de cada um.

Publicado
16-11-2021