Discursos de Profissionais da Saúde Sobre Pacientes Psicóticos

Resumo

Esta pesquisa tem como tema central os discursos produzidos por profissionais da saúde acerca de pacientes psicóticos. Verificou-se nesses discursos se os sentidos que são atribuídos a eles influenciam na atuação desses profissionais. Objetivou-se compreender quais são os sentidos atribuídos em relação à psicose e ao paciente psicótico, descrevendo, analisando e comparando os discursos de profissionais que atuam diretamente com esses pacientes. O referencial teórico dessa pesquisa está embasado na teoria das Práticas Discursivas e Produção de Sentido no Cotidiano, ao qual para essa abordagem a produção de sentido é adotada como um fenômeno sociolinguístico e procura compreender tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano, como os repertórios utilizados nessas produções discursivas. Ao utilizar a metodologia das práticas discursivas, não se procura estruturas ou formas usuais de associar conteúdo, parte-se do pressuposto que esses se associam de formas distintas em diferentes contextos, ou seja, os sentidos são fluídos e contextuais. Para a análise dos dados, utilizou-se uma ferramenta denominada Mapas Dialógicos, que são empregados em pesquisas que visam avaliar as práticas discursivas e produção de sentidos. O Mapa é uma tabela com colunas divididas tematicamente. Os temas, em geral, refletem o roteiro da entrevista, mas a definição de cada tema ocorre após a entrevista, uma vez que a definição das temáticas organizadoras dos conteúdos da entrevista já é o processo de interpretação.

 Foram entrevistados seis profissionais de diversas áreas da saúde, com tempo diversificado de atuação na área. Realizou-se entrevistas semiestruturadas a partir da questão principal “Como você enxerga/vê o paciente psicótico?”. Foram utilizadas quatro categorias para análise: Sentidos sobre o paciente psicótico; Institucionalização; Socialização e Manejo. Além desses eixos temáticos, surgiram durante a análise dos mapas dialógicos dois temas relevantes nas falas de alguns entrevistados: Formação profissional e Causas da psicose. Para os entrevistados, em suma, o paciente psicótico é definido como alguém que apresenta comportamentos inadequados, incapaz de distinguir o real do imaginário e que podem gerar medo ou nojo nas pessoas, em razão de seus comportamentos não estarem de acordo com as normas e regras construídas coletivamente na sociedade. Contudo, alguns participantes apresentam práticas discursivas que podem ser entendidas como rupturas com discursos institucionalizados, visto que apresentam relatos que apontam que o manejo do paciente psicótico vai além daquele indicado teoricamente, apontando que o afeto, a escuta e a atenção são importantes no tratamento. Assim, esse entendimento interfere diretamente no trabalho desses profissionais, pois reduz o distanciamento entre o paciente e o profissional