O EIXO MICROBIOTA INTESTINAL - CÉREBRO

O PAPEL DA DISBIOSE NO DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS

  • Renata Tabalipa Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Betânia Francisca dos Santos
  • Fernanda dos Anjos
  • Hariel de Andrade
  • Millena Daher Medeiros Lima
  • Victor Emanuel Miranda Soares
  • Andréia Machado Cardoso
Palavras-chave: Microbiota intestinal. Eixo microbiota intestinal-cérebro. Doenças neurodegenerativas. Doença de Alzheimer. Doença de Parkinson.

Resumo

A comunicação bidirecional entre o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso entérico, denominada eixo intestino-cérebro, tem sido amplamente estudada por sua correlação com distúrbios gastrointestinais decorrentes de estresse psicológico e físico, bem como pelo importante papel executado pela microbiota intestinal nesse processo. Sabe-se que essa complexa interação é mediada por neurônios autonômicos, hormônios circulantes e neuromoduladores. A microbiota intestinal desempenha funções fundamentais na homeostase do organismo, atuando na maturação do sistema imunológico das mucosas, manutenção das barreiras intestinais e modulação de funções neuromusculares. Todavia, um desequilíbrio em sua composição (disbiose), que varia de acordo com hábitos alimentares, estilo de vida e uso de medicamentos como os antibióticos, pode estar associada à fisiopatologia de doenças neurodegenerativas como as doenças de Parkinson e Alzheimer. Este trabalho visa analisar a participação da microbiota intestinal na origem e desenvolvimento dessas patologias, visto que compreender a dinâmica desse processo é essencial para o estabelecimento de alternativas diagnósticas e terapêuticas. Trata-se de uma revisão de literatura realizada por meio da consulta a artigos científicos originais e de revisão que discorrem sobre o eixo microbiota intestinal-cérebro e sua possível relação com doenças neurodegenerativas, selecionados a partir de buscas nos bancos de dados PUBMED e SCIELO quanto à relevância e originalidade. A possível influência do eixo microbiota intestinal-cérebro no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas caracterizadas por neuroinflamação crônica, como Parkinson e Alzheimer foi sugerida em estudos recentes realizados em modelos animais e humanos. Acredita-se que, além da secreção de metabólitos neuroativos, a produção de neurotransmissores pelas bactérias do trato gastrointestinal possa desempenhar ações diretas no SNC via nervo vago. Outro meio de comunicação entre o intestino e o cérebro seria via resposta inflamatória frente a um quadro de disbiose, ou mesmo por uma reação autoimune à microbiota normal. Nessas situações há um aumento da permeabilidade intestinal e da barreira hematoencefálica (BHE) pela produção de citocinas que poderiam alcançar a corrente sanguínea e atingir o SNC, estimulando a neuroinflamação e neurodegeneração. Além disso, a microbiota intestinal normal ajudaria a manter a BHE íntegra ao regular a expressão de proteínas de junção. O envolvimento da microbiota intestinal na modulação de proteínas específicas da transmissão sináptica relacionada ao controle motor e comportamental também tem sido investigado. Ressalta-se que a microbiota intestinal é fortemente influenciada por fatores extrínsecos, como o tipo de parto pelo qual passou o indivíduo, dieta/amamentação e uso de antibióticos. Diferenças entre as microbiotas de idosos em casas de repouso e da comunidade em geral foram evidenciadas; no entanto, uma relação causa-efeito entre redução da diversidade da microbiota intestinal e déficit cognitivo não foi confirmada. Contudo, há evidências de que a disbiose, tanto na infância quanto na terceira idade, aumenta significativamente a probabilidade de disfunção cerebral.  A partir do exposto, conclui-se que a microbiota intestinal, por meio dos metabólitos bacterianos, do sistema endócrino e, principalmente, do sistema imunológico, pode interferir no funcionamento cerebral. Portanto, o estudo do eixo intestino-cérebro pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias diagnósticas e terapêuticas para doenças neurodegenerativas.

 

 

 

Publicado
29-03-2021