A TRAJETÓRIA DE UM PROJETO DE CULTURA PELO TEATRO DO OPRIMIDO E PHOTOVOICE: EM CENA E NAS LENTES, VIOLÊNCIA(S) NAS RELAÇÕES UNIVERSITÁRIAS
Resumo
Introdução
A violência acontece desde muito tempo e já está enraizada em nossa sociedade, podendo ser caracterizada como um problema de saúde pública. Como ela já se faz presente em todos os lugares, nas Universidades não seria diferente. Muitas vezes, caminham lado a lado com o processo de formação acadêmica. Sendo um problema de saúde pública, nos cursos da saúde esse tema deveria receber um enfoque maior, porém, geralmente a formação em saúde vai para um caminho e as demandas sociais da comunidade e do Sistema Único de Saúde (SUS) vão para outro, não formando assim, profissionais preparados para atender necessidades sociais como a violência, sem aproximação com as maneiras de enfrentamento, cuidado às pessoas envolvidas, prevenção e promoção à saúde, para que no futuro profissional possua um olhar mais ampliado da complexidade do fenômeno e da realidade de cada indivíduo (BARAGATTI, 2013). O objetivo desse trabalho é relatar as vivências e experiências de um projeto de cultura que pretende debaterdialogicamente pelas técnicas do Teatro do Oprimido e Photovoicesobre as relações universitárias como (re)produtoras de violência(s), descortinando silêncios e construindo empoderamento para libertação de todas as vozes implicadas na formação.
Metodologia
Trata-se de um estudo na modalidade relato de experiência, de atividades desenvolvidas no âmbito do Projeto de Cultura intitulado “As relações universitárias como (re)produtoras de violência(s): descortinando silêncios pelo Teatro do Oprimido e Photovoice”, fomentado e institucionalizado com Bolsa Cultura pela Diretoria de Cultura (DARTC) vinculada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), pelo Edital nº 611/GR/UFFS/2018. Esse Projeto tem como base ideias do educador Paulo Freire, associadas a duas técnicas artísticas de enfrentamento da violência com afinidade teórica ao pensamento de Freire. Essas duas técnicas seriam, O Teatro do Oprimido (criado pelo dramaturgo, diretor e teórico de teatro Augusto Boal) e o Photovoice(desenvolvido por Wang, Burriss e outro colaboradores). No que se refere ao Teatro Oprimido, buscasse uma nova maneira de fazer teatro, quebrando a quarta parede imposta pelo teatro aristotélico a qual separa o palco da plateia, trazendo assim os espectadores a participarem da cena se tornando protagonistas das suas realidades cotidianas encenadas, sendo chamados de “espect-atores” (CAMPOS; PANÚNCIO-PINTO; SAEKI, 2014). Já o Photovoicetrata de uma representação e exposição de vivências comunitárias por meio da fotografia sendo considerada uma técnica de pesquisa-ação participativa, onde os indivíduos representam suas vivências comunitárias através de um tipo de fotografia específica, onde o que mais importa não é a qualidade da fotografia em si, mas a discussão daquele registro (TOUSO et. al., 2017).
Desenvolvimento e processos avaliativos
Até o momento foram realizadas entre Agosto de 2018 e maio de 2019 três reuniões com a equipe de coordenação do projeto, duas reuniões com a equipe de “fotógrafos” que estará registrando as violências no Campus(denominada de “Nossos Olhos”), e quatro encontros abertos para toda a comunidade universitária e loco-regional, tendo como temas: 1) “As relações universitárias como (re)produtoras de violência(s) e a potência do enfrentamento pelo movimento estudantil: construindo uma agenda conjunta entre UFFS, UDESC, Unochapecó e UNOESC”; 2) “O que é o Teatro do Oprimido?”; 3) “Teatro do Oprimido: quais as violências presentes nas relações universitárias e quais os atores envolvidos?”; e 4) “Photovoice: como capturar violências nas relações universitárias pelas lentes d@s estudantes?”. Embora aberto para toda comunidade loco-regional para além da universidade, participaram dos encontros principalmente estudantes da UFFS, com pouco participação também de professores/as, técnicos-administrativos em educação e integrantes de movimentos sociais. Os encontros despertaram o lado reflexivo, crítico e criativo dos(as) estudantes, qualificando pela linguagem cultural o processo de formação desses(as) futuros(as) profissionais. Além de estarem contribuindo para melhorias no espaço educacional, estão em processo formativo para lidarem com as diversidades de violências no mundo do trabalho, promovendo saúde e prevenindo efeitos desse fenômeno, como o suicídio e a depressão. A média de público nos encontros foi de mais ou menos 40 pessoas, visto que, no segundo e terceiro encontros se inscreveram mais de 150 pessoas. Através dos encontros, os participantes vêm demonstrando a necessidade de espaços de escuta e diálogo sobre temas como violência e, mais ainda, sobre o anseio da comunidade universitária em dar visibilidade como etapa inicial e fundamental do enfrentamento às relações violentas nesse espaço transformador.
Considerações Finais
Considera-se que o Projeto tem sido empoderador para libertação de vozes inseridas na comunidade acadêmica, juntamente com as técnicas do Teatro do Oprimido e do Photovoicevindo a potencializar a visibilidade de situações de violência e sofrimento dentro desses espaços, e abrindo a possibilidade para construção de estratégias resolutivas dialógicas, democráticas, horizontais e participativas. Incentiva, ainda, a ampliação do olhar para além da sala de aula e de conteúdos teóricos e/ou práticos, englobando a (ainda) estigmatizada linguagem cultural, que por muitas vezes pode impactar positivamente no desempenho estudantil em sala de aula e também no ambiente de trabalho posteriormente. Recomenda-se incorporação curricular de debates com linguagens que instiguem criticidade e criatividade na formação em saúde, sobretudo para reflexão sobre temáticas complexas como a violência.