PET-SAÚDE

CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL

  • Graciela Fonsêca Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó

Resumo

Introdução

O trabalho colaborativo no âmbito da saúde tem se demonstrado fundamental para o desenvolvimento de um trabalho em equipe qualificado, uma vez que possibilita o compartilhamento de saberes entre diferentes profissões sobre um objetivo em comum, aumentando assim as competências e a capacidade de resposta a determinada situação (CECCIM, 2018).

Apesar da interprofissionalidade não ser um campo de discussão novo na saúde, percebe-se que pouco se tem trabalhado sobre o assunto, tanto nos serviços quanto na formação acadêmica. Por consequência, os processos de trabalhado e aprendizagem, ainda são superficialmente utilizados no Sistema Único de Saúde (SUS) (CECCIM, 2017).

Sob essa ótica, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET- Saúde) Interprofissionalidade – viabilizado pela união entre a Universidade Federal da Fronteira Sul(UFFS), Campus Chapecó, a Universidade do Estado de Santa Catarina/Centro de Educação Superior do Oeste (UDESC/CEO), a Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC), Campus Chapecó, e a Secretaria Municipal de Saúde de Saúde (SESAU) de Chapecó – vem desenvolvendo atividades que visam aproximar os estudantes dos serviços de saúde, estimulando-os a pensar os processos de trabalho colaborativos, buscando estimular também  as equipes dos serviços envolvidos para as práticas colaborativas, empoderando-as para que percebam a sua importância e se tornem precursoras de mudanças. Os alunos, já nas primeiras imersões nos serviços, puderam perceber a interprofisisonalidade como característica fundamental para o cuidado, agregando à sua formação diversos saberes, resultados de trocas entre profissioanais, acadêmicos e professores.

Dessa maneira, o trabalho pretende relatar a experiência das imersões longitudinais, em uma das Unidades Básicas de Saúde (UBS), cenário de práticas para o PET-Saúde Interprofissionalidades UFFS/UDESC/UNOESC/SESAU-Chapecó, considerando os aspectos da Educação Interprofissional sob o olhar de três estudantes de diferentes cursos de graduação e instituições de ensino.

 

Metodologia

Trata-se de um relato de experiência redigido a partir das imersões realizadas em uma das UBS da cidade de Chapecó, cenário de práticas para o PET-Saúde. Essas imersões ocorreram nos dias 07 e 21 de maio de 2019, com a participação de três estudantes vinculados aos cursos de enfermagem da UFFS, psicologia e educação física da UNOESC, com a preceptoria de profissionais do serviço e o acompanhamento de docentes da UFFS vinculadas aos cursos de enfermagem e medicina.  No total, o grupo conta com 07 participantes. 

 

Desenvolvimento e processos avaliativos

A primeira imersão no serviço de saúde teve como intuito permitir o reconhecimento da UBS, bem como sua organização e funcionamento, buscando uma aproximação com o serviço. Este primeiro momento possibilitou conhecer potencialidades e fragilidades do serviço e pensar em atividades que possam ser desenvolvidas pelo PET- Saúde sob a luz da interprofissionalidade.

Baseando-se, inicialmente, nos relatórios sobre a população adscrita à UBS, gerados a partir do prontuário eletrônico do município (Win-Saúde), verificou-se números altos de hipertensos, diabéticos e pessoas com problemas de saúde mental,  o que gerou um bom diálogo no grupo e fez os participantes pensarem sobre possibilidades de abordagens ampliadas e colaborativas para esses grupos. Durante a atividade, levantou-se a discussão, ainda, sobre alta demanda de pessoas com problema de saúde mental. Com isso, foi problematizada a medicalização excessiva e, por muitas vezes, desnecessária de psicotrópicos e foi possível refletir sobre a importância do trabalho interprofissional e sobre como o trabalho conjunto da equipe poderia interferir nessa problemática de forma bem mais condizente.

Com base nessa premissa, questionou-se os estudantes de psicologia e a de  educação física sobre a matriz curricular de seus cursos, se havia componentes curriculares e interações durante a graduação com a Atenção Básica (AB), visto que essas categorias profissionais possuem papel fundamental no cuidado e fazem parte dos Núcleos Ampliados de Apoio a Saúde da Família e AB (NASF-AB). No entanto, a resposta foi negativa, despertando no grupo inquietações, já que estudar, conhecer e saber qual o papel de cada profissional na AB é fundamental para os cursos da área da saúde e isso ocorre no curso de enfermagem.

Em relação à segunda imersão, o grupo teve a oportunidade de fazer um reconhecimento do território da área de abrangência da UBS, circulando em duas micro áreas de maior desigualdade social, com determinantes sociais do processo saúde-doença distintos que precisam ser discutidos e trabalhados a partir da interprofisisonalidade. Essa atividade aconteceu com a participação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que levaram os participantes até a comunidade, demostrando e exemplificando as principais fragilidades e potencialidaddes do território visitado, considerando os determinantes sociais do processo saúde-doença.

Essas, dentre outras questões, foram levantadas e através delas, os estudantes puderam perceber o papel da Educação Interprofissional e das práticas colaborativas em saúde , o quanto elas têm a contribuir para uma assistência qualificada  e entender que o cuidado em saúde, para ser resolutivo,  precisa ocorrer em equipe, já que o usuário e a família precisam ser vistos e escutados de forma integral.

 

Considerações finais

À guisa das considerações finais, pondera-se que iniciativas extensionistas como o PET-Saúde Interprofissionalidade tem contribuído para uma formação acadêmica ampliada e interprofissional, possibilitando desenvolver ações práticas, que intervém na comunidade, e no desenvolvimento da aprendizagem a partir das vivências e práticas colaborativas e do contato com problemas reais, o aprender com a finalidade social respondendo, assim, às demandas e necessidades do SUS.

Biografia do Autor

Graciela Fonsêca, Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó

Mestre e doutora em Ciências Odontológicas pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

Docente do curso de medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Chapecó.

Publicado
17-07-2019