ANÁLISES BIOQUÍMICAS COMO EXAME COMPLEMENTAR NOS ANIMAIS DE COMPANHIA ATENDIDOS EM PROJETO DE EXTENSÃO
Resumo
Introdução
Nas últimas décadas é visto que a maioria dos tutores consideram seus animais de companhia como membros da família, pelo bem-estar físico e mental que eles proporcionam. Levando isso em consideração os proprietários começam a se preocupar cada vez mais com a saúde de seus animais, levando-os ao veterinário frequentemente, quando existe essa prestação de serviço. Além do atendimento clínico, muitas vezes é necessário a utilização de exames laboratoriais complementares. A mensuração dos componentes bioquímicos é essencial para conhecer o estado fisiológico do animal (MANDONADO e GARCIA, 2015).
O fígado é o órgão onde praticamente todas as reações metabólicas ocorrem e por isso é essencial avaliar suas principais enzimas como a alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e fosfatase alcalina (FA) quando se suspeita de alguma alteração hepática. A albumina é a proteína plasmática mais abundante no organismo, e junto com a avaliação das proteínas totais (PPT), possibilita verificar o estado de hidratação e a função hepática. Para avaliar o funcionamento dos rins, a ureia e creatina são utilizados, por serem metabólitos excretados pelo órgão (GONZÁLEZ e SILVA, 2017).
A Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU) da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Realeza, possui em sua estrutura o Laboratório de Análises Clínicas, que presta esse serviço em projetos de extensão à população local, que pode assim cuidar apropriadamente de seus animais.
Metodologia
O projeto de extensão intitulado “Atendimento clínico laboratorial aos animais de Realeza e região”, realiza diversos tipos de exames laboratoriais, entre eles, avaliação de marcadores bioquímicos sanguíneos. Foram utilizados os resultados das análises bioquímicas de 127 cães e 16 gatos atendidos no período de 02 de janeiro a 30 de abril de 2019. Foram compilados os parâmetros bioquímicos mais solicitados: ALT, AST, FA, ureia, creatinina, PPT e albumina. Os materiais utilizados para a dosagem foram kits comerciais, banho-maria, espectrofotômetro e analisador bioquímico semi-automático.
Desenvolvimento e processos avaliativos
Na maioria das vezes foram solicitados mais de um exame bioquímico por consulta, e alguns receberam mais de uma consulta no período. No total foram realizadas 632 análises bioquímicas, sendo: creatinina= 147/ (23,2%), ureia = 132 (20,9%), ALT = 130 (20,6%), FA = 124 (19,6%), PT = 86 (11,6%), albumina = 21 (3,4%) e AST = 4 (0,6%). Considerando o setor que solicitou os exames os animais foram agrupados em quatro grupos: cirurgias eletivas (CE), cirurgias terapêuticas (CT), clínica (CL) e oncologia (ONCO) (Tabela 1).
Os animais atendidos para realização e cirurgias eletivas são em geral animais saudáveis encaminhados para realização de cirurgia de esterilização, percebe-se que os cães do grupo CE apresentaram média dentro dos valores de referência para a espécie em todos os parâmetros. Individualmente alguns animais apresentaram discreta elevação de ureia e proteínas, e mais expressivo de FA. Demonstrando a importância da avaliação laboratorial mesmo em paciente sem sinais clínicos.
Os demais grupos se referem a animais doentes, no grupo CT em cães o único valor médio fora da referência foi o de PPT, elevação às proteínas sugerem processo inflamatório e/ou desidratação. Os felinos do CT apresentaram elevação média de ALT, que indica lesão hepatocelular. Individualmente destacam-se as elevações de ureia e creatinina em alguns cães, que podem indicar comprometimento de função renal (GONZÁLEZ e SILVA, 2017).
No grupo CL foram incluídos animais com alterações clínicas diversas, que se reflete na grande variação entre os valores mínimo e máximo. Observa-se alteração mais expressiva da FA no CL e ONCO, pela análise do desvio padrão e valor máximo, tendo relação principalmente com colestase hepática e neoplasias. Nos felinos as alterações foram mais frequentes, alterando as médias da ALT, ureia, creatinina e proteínas. Nos felinos, além da disfunção renal, a elevação de ureia e creatinina, ocorrem com frequência pela obstrução das vias urinárias (GONZÁLEZ e SILVA, 2017).
Tabela 1. Resultados em média ± desvio padrão (mínimo; máximo) da concentração sérica de alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), uréia, creatinina, proteínas totais (PPT) e albumina de cães e gatos, atendidos na SUHVU em Realeza/PR, no período de 02 de janeiro a 30 de abril de 2019.
Parâmetros
Valores de Referência
Cão/Gato**
Cão
Gato
CE
CT
CLÍN
ONCO
CT
CLÍN
ALT
(U/L)
21–73/
6 –83
33,3±20,1
(10,0; 83,0)
49,4±35,1
(15,0; 162,0)
54,7±52,3
(5,0; 330,0)
54,0±41,9 (15,0; 141,0)
152,1±93,2
(62; 288)
121,2±164,5
(31; 513)
FA
(U/L)
20–156/
25-93
105,6±103,4
(34,8;348,2)
148,3±197,8
(22,4; 928,1)
129,6±133
(2,2; 752,1)
133,7±163,1 (43,3; 638,4)
77,8±40,2
(33,6; 123,5)
52,4±41,0
(11,6; 127,7)
Ureia
(mg/dL)
21,4- 59,9/
42,8 – 64,2
33,4±15,1
(15,9; 65,2)
51,9±44,9
(12,7; 232,3)
47,8±41,1
(10,6; 263,1)
38,7±19,0 (16,9; 74,7)
44,4±14,8
(27,5; 66,5)
102,8±128,2
(40,5; 441,4)
Creatinina
(mg/dL)
0,5–1,5/
0,8-1,8
1,1±0,3
(0,4; 1,5)
1,1±0,7
(0,5; 3,9)
1,1±1,0
(0,6; 7,9)
1,0±0,2
(0,8; 1,7)
1,1±0,2
(0,6; 1,4)
2,0±2,3
(0,9; 8,2)
PPT
(g/dL)
5,4-7,1/
5,4-7,8
7.0±0,6
(6,0; 7,8)
7.5±1,5
(4,9; 11,6)
7.4±1,8
(5,0; 12,5)
*
*
8.0±1.7
(6,8; 10,6)
Albumina
(g/dL)
2,6–3,3/
2,1–3,3
*
*
2,7±1,0
(1,6; 5,6)
3,4±0,2
(3,2; 3,6)
*
*
*Não houve solicitação desses exames. ** KANEKO et al, 1997.
Considerações Finais
Os serviços oferecidos possibilitaram às pessoas do município e região prestarem os cuidados de saúde necessários aos seus animais de companhia. Demonstra a importância das análises bioquímicas no auxilio aos médicos veterinários para o acompanhamento dos pacientes, mesmo nos casos que se apresentam como animais aparentemente saudáveis. Além disso, o projeto cumpre um dos papéis da universidade em colaborar com o desenvolvimento social, permitindo ainda, o aprimoramento dos discentes na área de análises clínicas.
Referências Bibliográficas
KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. Clinical biochemistry of Domestic animal. 5th.ed. New York:Academic Press, 1997. 932p.
GONZÁLEZ, F.H.D.; SILVA, S.C. Perfil Bioquímico Sanguíneo. In_: Introdução à bioquímica clínica veterinária. Porto Alegre: Editora UFRGS, 3.ed. cap.8, p. 463-515, 2017.
MALDONADO, N.A.C.; GARCIA, R.C.M. Bem-estar Animal. In: Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos, JERICÓ, M.M.; NETO, J.P. A.; KOGIKA, M.M. Rio de Janeiro: Roca, v. 2, p. 2282 e 2285, 2015.