Teoria do Link: a conexão entre maus tratos a animais e a violência contra humanos

Resumo

Desde a década de 1960 pesquisadores dos Estados Unidos tratam sobre o elo entre crueldade contra animais e violência contra humanos. Estudos mostraram que a criança que maltrata animais pode se tornar um adulto violento e até assassino. Dados da Polícia Ambiental do Estado de São Paulo confirmam essa tese, apontando que a maioria dos autuados por maus tratos a animais era fichada por violência contra pessoas. Eis a Teoria do Link ou do Elo, que nada mais é que a conexão entre atos cruéis contra animais e posterior violência contra humanos. Inicialmente, a tríade de fatores: enurese, atos incendiários e crueldade contra animais, apontava um prognóstico de comportamento antissocial violento. Mas em pesquisas observou-se que crianças e adolescentes “problemáticos” apresentavam pelo menos dois comportamentos dessa tríade e, entre estes, a crueldade contra animais. Foi então que se confirmou que a prática da crueldade apontava um prognóstico de futuro ser humano violento. Estudos também revelaram que a criança agressiva geralmente era vítima de violência doméstica, o que gerava um círculo difícil de ser quebrado: abuso infantil – maus tratos a animais – adulto violento. Em 1987, a Associação Americana de Psiquiatria incluiu a crueldade contra animais como sintoma do transtorno de conduta. Em 1997, a Faculdade de Medicina Veterinária do Hospital da Pennsylvania reconheceu a teoria e seus veterinários passaram a comunicar às autoridades qualquer suspeita de crueldade. Com o avanço das pesquisas, o Link passou a ser indicado a partir de três sinais de alerta: crueldade animal, abuso infantil e violência doméstica, juntos ou separados. O FBI, serviço de inteligência da polícia americana, utiliza a teoria desde a década de 1970. Dos 36 assassinos em série entrevistados, 36% descreveram matar e torturar animais e 46% foram cruéis com animais na adolescência. Então o Link, avaliado com outros comportamentos, pode ajudar a indicar assassinos em série. No Brasil, entre 2010, 2011 e 2012, a Polícia Ambiental de São Paulo registrou 554 ocorrências de maus tratos, envolvendo 471 animais domésticos. Dos 643 envolvidos, 204 tinham registros criminais (32%) e 90% eram homens de meia idade (43 anos). Dos que já eram fichados criminalmente, metade tinha praticado crimes violentos contra pessoas. Ou seja, a Teoria do Link também se aplica aqui. Entretanto, maus tratos contra animais precisam ser tratados com maior seriedade pela justiça brasileira. Nos EUA, os animais são considerados como vítimas e têm direitos, o que confere penas severas. No Brasil, eles são objeto de crime e não têm direitos. Aqui as penas são para quebra de regra social, ou seja, leves. O tema ainda é pouco estudado e difundido no país e carece de mais informação e treinamento para profissionais da segurança pública e saúde, incluindo médicos veterinários, que podem contribuir muito para identificar violência doméstica a partir dos casos de maus tratos contra animais. Portanto, uma atuação conjunta, a exemplo do que ocorre nos EUA, entre autoridades de segurança pública e profissionais de saúde humana e animal, poderia minimizar e prevenir casos futuros de violência contra animais e humanos aqui.