A CARTOGRAFIA SOCIAL COMO RECURSO METODOLÓGICO NA PESQUISA GEOGRÁFICA

Autores

  • Janaína Gaby Trevisan Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó (SC)
  • Willian Simões

Resumo

No contexto das lutas e (re)existências da Questão Agrária Brasileira, destacamos neste trabalho a emergência do Assentamento Dom José Gomes, recorte socioespacial de nossas análises e reflexões. O Assentamento localiza-se em Chapecó (oeste catarinense), região marcada pela hegemonia do modelo de desenvolvimento capitalista verticalizado, com destaque ao fortalecimento das agroindústrias de aves, suínos e leite, que impuseram um novo ritmo de vida e produção nesse espaço, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Considerando marcos histórico-geográficos de vida e de produção de territorialidades em Chapecó, por meio da pesquisa-ação participativa e da elaboração de Cartografia Social, sustentamos a compreensão de que o Assentamento apresenta-se na atualidade como resistência social, política e territorial, contribuindo como espaço-dispositivo descolonizador de uma perspectiva moderno-eurocentrada-capitalista-patriarcal-colonial que ditou a lógica colonizadora do território. A possibilidade de cartografar essa luta pela terra e pela manutenção da identidade territorial é apontada como alternativa metodológica para visibilizar a existência do Assentamento no município. A elaboração do mapa de modo coletivo, traz consigo o intuito de contribuir na (re)afirmação da comunidade e sua vida no território, transparecendo um sistema de objetos que (re)significam a história social e cultural da organização e de territorialização da comunidade. O caráter social atribuído ao mapa contradita a cartografia tradicional, contestando o poder atribuído aos mapas elaborados por instituições e/ou empresas privadas ligadas às ordens de seletividade do poder, por sua vez, do próprio território. A Cartografia Social nos inspira ao refutar símbolos de poder submetidos aos interesses capitalistas, abraçados e incentivados por medidas estatais em consonância com o modelo de desenvolvimento proposto pelo agronegócio, pelos latifundiários e outros protagonistas da homogeneização territorial. Essa contracartografia, a partir de uma metodologia exploratória, pode contribuir em um movimento de descrever refletindo sobre o Assentamento, bem como seu entorno espacial, social e político, resultado de uma interlocução com marcos sociais da terra, como sendo um território subversivo e resistente às marcas coronelistas de Chapecó. Nesse sentido, o estudo dar-se-á no âmbito da pesquisa-ação, no intuito de dar ao Assentamento as devolutivas que podem contribuir para ampliar o (re)conhecimento territorial perante a (in)visibilidade do Assentamento junto ao poder público administrativo. A proposta da Cartografia Social emerge como campo do conhecimento que propicia a (re)significação do território, como ferramenta de cunho geográfico que auxilia na absorção da compreensão do sujeito sobre seu lugar no território. Pretende-se expressar no mapa um conjunto de signos com os quais espera-se fundamentar e confirmar a premissa defendida: a necessidade de não apenas refletir sobre os territórios e seus sujeitos, mas sim possibilitar-lhes condições de interferirem e se tornarem cada vez mais protagonistas da história de seu próprio território de vida.

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Publicado

30-10-2018

Edição

Seção

Campus Chapecó - Projetos de Pesquisa