SOFRIMENTO MENTAL: ASPECTOS SOCIAIS E A ORGANIZAÇÃO DA GESTÃO DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE CHAPECÓ/SC
Resumo
No decorrer da história brasileira, a saúde mental caracterizou-se por diferentes perspectivas. Até a década de 1970, a presença dos hospitais psiquiátricos – antigos manicômios – no qual os indivíduos eram internados e excluídos dos seus círculos sociais, ou seja, da vida em sociedade, foi predominante. Com a chegada da Reforma Psiquiátrica e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da década de 1980, um novo panorama começa a ser moldado em torno da saúde mental dos brasileiros. A Estratégia da Saúde da Família (ESF) constituída na Atenção Básica foi, e ainda é, uma peça chave para descentralização do atendimento da saúde mental e fomento de novas práticas voltadas a concepção de integralidade, intersetorialidade, territorialidade e interdisciplinaridade que estruturaram esse novo modo de cuidar. Com o desenvolvimento desse serviço de saúde, cresce a procura por respostas de fatores relacionados ao sofrimento mental, que vão além do atendimento clínico. Englobam o contexto social, cultural, econômico e dos territórios dos usuários que frequentam a Atenção Básica. Considerando-se que a organização do processo de trabalho das equipes é crucial para um atendimento humanizado à pessoa que sofre, objetiva-se caracterizar, a partir do aspecto social, a organização da gestão das unidades que fizeram parte da pesquisa Sofrimento Mental na Atenção Básica: Profissionais, Diagnóstico e Tratamento em um Município da Região Oeste de Santa Catarina. Trata-se de um estudo qualitativo, em que os dados foram coletados por observação participante e entrevistas semiestruturadas com as enfermeiras gestoras de quatro unidades, sendo duas que mais prescrevem psicotrópicos e duas que menos prescrevem, de acordo com os procedimentos de amostragem adotada pela análise quantitativa da referida pesquisa. Além disso, realizou-se investigação documental de materiais que caracterizavam as regiões estudadas – dados populacionais e geográficos. Durante o processo de coleta de dados, foram encontrados aspectos significativos entre as unidades incluídas na amostragem, elencando características territoriais e populacionais bastante distintas, contribuindo para a riqueza de informações. As Unidades Básicas apresentaram particularidades que assinalaram pontos específicos das regiões estudadas. Dentro destes aspectos estão classe social, condição de trabalho, acessibilidade, violência, cultura e condições de moradia. Por meio das entrevistas, foi constatado que essas particularidades estavam presente nas queixas dos usuários, e influenciavam diretamente nas condições de vida. Evidenciou-se que nos territórios em que condições sociodemográficas inferiores foram identificadas, também encontrou-se maiores danos de saúde relacionados ao sofrimento mental. Desta forma, afirma-se a expressiva necessidade de uma reflexão para além da abordagem clínica individual, considerando as condições sociais, culturais e econômicas de interferência direta no adoecimento mental dos indivíduos. A análise evidencia a ligação entre os papéis sociais e status sociais dos usuários, as condições de vida e vulnerabilidades relacionadas ao adoecimento social do sujeito.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Editorial do XIII SEPE e concordo que os direitos autorais, a ele referente, se torne propriedade do Anais do XIII SEPE da UFFS.