VIVÊNCIA DE UMA ACADÊMICA DE ENFERMAGEM NO ACOMPANHAMENTO DE UMA MULHER EM SITUAÇÃO DE PERDA FETAL

Autores

  • Rafaela Reinicke Universidade Federal da Fronteira Sul Chapecó
  • Grasiela Cagol
  • Eleine Maestri Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Joice Schmalfuss Universidade Federal da Fronteira Sul

Resumo

Durante o Curso de Graduação em Enfermagem alguns conteúdos relacionados à saúde da mulher, saúde materno-infantil e obstetrícia são trabalhados na teoria, mas nem sempre são vivenciados nas inserções práticas. A morte fetal é um desses conteúdos e costuma impactar de forma significativa nas ações de acadêmicos de Enfermagem que vivenciam pela primeira vez esta situação. É objetivo deste trabalho relatar a vivência de uma acadêmica de Enfermagem no acompanhamento de uma mulher em situação de perda fetal. Trata-se de relato de experiência vivenciada no Centro Obstétrico de um hospital do oeste catarinense durante realização de Estágio Curricular Supervisionado I, pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Fronteira Sul, no primeiro semestre de 2018. A mulher acompanhada internou no Centro Obstétrico referindo não sentir a movimentação fetal e afirmando que a última ausculta de batimentos cardíacos fetais tinha acontecido há uma semana. A idade gestacional indicava 37 semanas e durante a gravidez diagnosticou-se Diabete Melito Gestacional. Ao exame físico não foram auscultados batimentos cardíacos fetais e a ultrassonografia obstétrica constatou morte fetal, com conduta de início de indução do trabalho de parto. No decorrer da indução a bolsa das águas rompeu espontaneamente, visualizando-se líquido amniótico achocolatado, característico de morte fetal. A mulher evoluiu para o período expulsivo com o nascimento de uma bebê sem vida, de aspecto macerado. A mãe da mulher esteve presente durante todo o processo de parturição, lhe apoiando e manifestando esperanças de que a neta nasceria viva. A morte de um bebê intraútero inverte a lógica de que as pessoas nascem, envelhecem e morrem. Para pais e familiares tal acontecimento pode causar muitos efeitos, podendo levar a prejuízos maiores, dependendo do tipo de assistência prestada. Desde a internação da mulher foi explicado como seria todo o processo de parturição, da mesma forma que acontece com outras parturientes. Quando indagada sobre o desejo de visualizar a bebê quando nascesse, perante resposta afirmativa, a mulher a pegou no colo e assim permaneceu por alguns minutos. Após, a avó acompanhou a neta durante procedimentos realizados e, em momento posterior, a bebê foi acolhida novamente no colo materno por mais alguns minutos. No puerpério atentou-se para que a mulher ficasse internada em uma enfermaria distante de outras onde estivessem mães com bebês vivos. No decorrer do acompanhamento foi possível presenciar alguns comentários por parte da equipe de saúde, questionando e, por vezes, culpabilizando a mulher pelo ocorrido em virtude da sua não percepção de movimentação fetal. Também se presenciou comentários de profissionais quanto à possibilidade de uma nova gravidez, como se tal evento amenizasse a dor sentida pela perda recente. Algumas condutas chamaram a atenção para a importância que a enfermeira exerce enquanto líder de equipe em relação às posturas adotadas, ao auxílio na ressignificação deste difícil momento e à leveza em tornar o acompanhamento o menos traumático possível. Tais cuidados impactaram de forma positiva nesta primeira vivência de perda fetal da acadêmica de Enfermagem, contribuindo significativamente no seu processo de construção formativa e pessoal.

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Publicado

26-10-2018

Edição

Seção

Campus Chapecó - Projetos de Ensino