CENTRO DE REFERÊNCIA DE SAÚDE DA MULHER E POPULAÇÃO LGBT
RELATO DE EXPERIÊNCIA DO ATENDIMENTO À POPULAÇÃO LGBT
Resumo
O exercício da medicina tem na relação médico-paciente o seu mais sólido pilar. A Universidade Federal da Fronteira Sul propicia aos acadêmicos os mais ricos cenários de prática, para o desenvolvimento dos saberes científicos e humanos. O Centro de Referência de Saúde da Mulher e População LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) é um dos ambientes de aprendizado, e possui portas abertas ao seu público-alvo. O Centro conta com uma equipe multidisciplinar preparada para lidar com as demandas dos pacientes, oferecendo múltiplos serviços: atenção à saúde da mulher em geral, orientação contraceptiva e planejamento, coleta de exames citopatológicos e investigações de biópsias, orientação e acompanhamento de terapias hormonais, atendimento psiquiátrico e grupos de apoio; ainda, se comunica com serviços de fonoaudiologia, e de assessoria jurídica com o Projur Mulher e Diversidade – ambos vinculados a Universidade de Passo Fundo. A inserção acadêmica neste atendimento se mostrou extremamente importante para a compreensão da diversidade das realidades existentes e o papel do médico no acolhimento e acompanhamento deste público. O programa acadêmico objetiva ampliar os conhecimentos na área da psiquiatria. A maior parte dos atendimentos realizados no período da experiência – entre março e julho de 2018 – foram ao público LGBT. Observacionalmente, percebeu-se a grande associação entre a disforia de gênero e/ou a homossexualidade com transtornos ansiosos e/ou depressivos. Grande parte dos pacientes LGBT relatavam dificuldades de relacionamento familiar em virtude da sua identidade de gênero/orientação sexual, bem como no convívio social e no mercado de trabalho. A percepção do impacto do preconceito na saúde destes pacientes é fundamental para o profissional de saúde, pois só com a visão global dos fatores que afetam o indivíduo é que se pode estabelecer metas terapêuticas eficazes. A visão da pessoa como um ser biopsicossocial instiga o médico a atuar na maximização destes três eixos que compõe o seu paciente. As discussões de cada caso clínico giravam em torno destes eixos: como melhorar a saúde física, a saúde psicológica e emocional, e como ajudar a inserir essa pessoa de forma digna numa sociedade repleta de tabus. O estabelecimento de um ambulatório especializado no atendimento ao público LGBT, além de propiciar a promoção à saúde e atenção às demandas específicas deste grupo, é uma ferramenta essencial na construção do saber médico – uma vez que o médico não deve de modo algum julgar seu paciente, e sim acolhê-lo e firmar uma sincera relação médico-paciente com ele. Dessa forma, a experiência no Centro de Referência em Saúde da Mulher e População LGBT foi um marco no processo de aprendizado médico, onde os acadêmicos puderam – muito mais que ofertar serviços médicos e psiquiátricos – compreender a singularidade do ser humano e de seus conflitos, contribuindo para o autoconhecimento e construção papel social do profissional de saúde.
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Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Editorial do XIII SEPE e concordo que os direitos autorais, a ele referente, se torne propriedade do Anais do XIII SEPE da UFFS.