Relatório temático: escrita, diário de campo e questões em Antropologia

Resumo

Produzir um relatório temático pode ser considerado como um esforço de sistematizar analiticamente experiências de quem escreve. Pretendo neste trabalho trazer experiências da minha própria trajetória enquanto estudante de ciências sociais e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência para refletir sobre processos de aprendizagem e de construção da formação teórica nas ciências sociais. A partir de debates na área de antropologia, o tema desse relatório focaliza a escrita no diário de campo como espaço de produção do pensamento científico. O antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira tem um texto no qual procura estranhar o próprio olhar, ouvir e escrever da sua disciplina, esses atos tão óbvios do trabalho científico, e que constituem o modo pelo qual o pesquisador percebe e pensa a realidade. É a partir do aprendizado e disciplinamento produzido pelas leituras do curso de ciências sociais que uma alteração desses modos acontece, a percepção do olhar e do ouvir é alterado para dar conta de explicar nos parâmetros científicos uma determinada realidade. Esses atos cognitivos são ampliados em algum sentido, instrumentalizam-se para acessar e construir outros tipos de informações. Ao se colocar numa experiência, o pesquisador está olhando, conversando, ouvindo, estabelecendo relações com seus interlocutores e tudo isso se dá a partir das possibilidades de interpretação que os acúmulos conceituais do próprio pesquisador o permitem fazer. Nesse sentido, a escrita nesse suporte chamado de diário de campo faz expressar tencionamentos na produção das reflexões sobre a experiência e exige do sujeito que escreve uma organização dos fluxos das ideias; construções de coerências argumentativas, e se isso não for possível num momento, a lembrança da própria impossibilidade de criar coerência fornece elementos para produção do pensamento.