ANESTESIA EM GALLUS GALLUS DOMESTICUS SUBMETIDO À INGLUVIOTOMIA – RELATO DE CASO

Resumo

As aves constituem a classe com maior número de indivíduos, tornando o procedimento anestésico um desafio, devido às particularidades anatômicas e fisiológicas de cada espécie. Elas possuem um sistema respiratório formado por dois componentes: o ventilatório, constituído pelas vias de condução, por nove sacos aéreos, um esqueleto torácico e a musculatura da respiração; e o componente das trocas gasosas, constituído por um pulmão parabronquial. Outra particularidade se encontra na traqueia das aves, composta por anéis cartilaginosos completos, sendo a intubação um processo que requer maior atenção, pois o ato de intubar ou a insuflação do balonete pode traumatizar a mucosa ou até mesmo romper os anéis traqueais. Aves possuem uma alta taxa metabólica, fazendo com que os anestésicos sejam metabolizados mais rapidamente, não atingindo muitas vezes o efeito terapêutico desejado. O objetivo do presente trabalho é relatar o caso de um galo doméstico, macho, adulto, peso de 3kg, atendido nas dependências da Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária da Universidade Federal da Fronteira Sul. Ao exame físico o animal encontrava-se deprimido, com aumento de volume na região do inglúvio, dispneia e crista e barbela cianóticas. Foi verificado frequência cardíaca (FC) de 216 bpm, frequência respiratória (FR) de 16 rpm e temperatura de 40,2ºC. No exame radiográfico constatou-se repleção e disfunção do inglúvio. Como tratamento, primeiramente foi realizado sonda do inglúvio para drenagem do conteúdo, que estava impactado. Com a impossibilidade de remoção do conteúdo por meio de sondagem e piora do quadro respiratório, o procedimento foi interrompido e o animal encaminhado para oxigenioterapia. Após retorno da coloração normal de crista e barbela, foi realizado anestesia para descompressão cirúrgica do inglúvio. Como medicação pré-anestésica foi utilizado midazolam (1mg/kg), morfina (1mg/kg) e cetamina (25mg/kg) via intramuscular. Após 3 minutos, a ave entrou em decúbito lateral, e foi possível realizar a intubação traqueal com traqueotubo de tamanho adequado ao paciente e sem balonete. Para manutenção anestésica, foi utilizado isolfuorano diluído em oxigênio a 100%. Como terapia auxiliar foi administrado enrofloxacina (20mg/kg) via intramuscular e meloxicam (0,5mg/kg) via subcutânea. Os parâmetros fisiológicos foram monitorados a cada 5 minutos. Após o procedimento cirúrgico, o animal foi mantido aquecido em colchão térmico e monitorado até completa recuperação. A cetamina é o agente injetável mais utilizado como anestésico para uma ampla variedade de espécies, incluindo as aves. O midazolam pode ser utilizado como adjuvante na indução anestésica e por promover relaxamento muscular satisfatório. Já a morfina é utilizada por promover analgesia e por reduzir a concentração de isofluorano durante a manutenção anestésica. Com a associação desses fármacos, não observou-se alteração significativa dos parâmetros fisiológicos monitorados. As frequências cardíacas e respiratórias mantiveram-se estáveis. A saturação de oxigênio nas hemoglobinas manteve-se dentro do limite aceitável devido a prévia estabilização com oxigênio antes do procedimento anestésico. Pode-se concluir que a associação de cetamina, midazolam e morfina e a manutenção com isofluorano foi considerada satisfatória, uma vez que os parâmetros fisiológicos mantiveram-se dentro dos valores considerados normais para a espécie.