UM POUCO AQUI, UM POUCO LÁ: O CONFLITO DE ESTAR ENTRE LÍNGUAS

Autores

  • Tatiana Gritti Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó
  • Angela Derlise Stube Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó

Palavras-chave:

sujeito, identidade, língua, memória

Resumo

Esta pesquisa tem por objetivo identificar como a relação ser-estar-entre-línguas produz marcas nas narrativas de estudantes, descendentes de imigrantes italianos e alemães, dos cursos de licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, localizada em uma região colonizada por descendentes ítalo/germânico. O aporte teórico utilizado é o da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, problematizando a relação sujeito, identidade/identificação, memória discursiva. A construção metodológica deste trabalho tem uma perspectiva qualitativa e se dá a partir de entrevistas semiestruturadas e gravadas em áudio e transcritas para análise. Acreditamos que fazer parte de um grupo social seja ele familiar, escolar, de amigos é parte de um processo de inclusão do indivíduo que na medida em que se identifica se sente aceito por este grupo. Conforme Hall (2006), todos nós temos um sentimento de identidade que está ligado à noção de “pertencimento”, de fazer parte de grupo étnico, racial, linguístico, religioso e, principalmente, nacional. Levando em consideração que a noção de identidade toma a língua como elemento de constituição do sujeito e que o sentimento pertencimento é importante para tal noção, esta pesquisa trabalha com a hipótese de que descendentes de imigrantes de italianos e alemães vivam um conflito por estar entre línguas e tal tensão é evidenciada pela resistência e pelo esforço em silenciar a língua de imigração. O gesto interpretativo aponta, ainda, que suas narrativas podem revelar cicatrizes que marcam a tentativa de interdição visando a aceitação pelo grupo social escolar. Para embasar nossas análises utilizamos autores como Michel Pêcheux, a partir do qual mobilizaremos os principais conceitos utilizados neste trabalho: sujeito e memória discursiva; Maria José Coracini, com pesquisas em um contexto de migração e imigração; Stuart Hall e suas contribuições na conceituação de identidade e identificação, etc. Assim, estar entre-línguas é estar entre-culturas, um pouco aqui, um pouco lá. É nesse movimento cultural conflituoso que o sujeito se constitui e se estabelece, mas ao mesmo tempo se apaga. E trabalhar esse sentimento conflitante de estar aqui e lá e não pertencer nem aqui nem lá passa pela questão de aceitação, compreender o outro é entender que estamos todos entre-línguas, já que de acordo com Coracini, o monolinguísmo é uma ilusão.

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Publicado

21-11-2016

Edição

Seção

Campus Chapecó - Projetos de Pesquisa