CETOACIDOSE DIABÉTICA EM PACIENTE PREVIAMENTE TRATADO COMODM2 - A VERDADE METABÓLICA REVELADA UMA DÉCADA MAIS TARDE: UMRELATO DE CASO

Autores

  • Nícolas Oliveira Moura UFFS
  • Martina Bassolli UFFS
  • Glaucia Sarturi Tres UPF
  • Shana Ginar da Silva UFFS

Palavras-chave:

Diabetes Mellitus; Cetoacidose diabética; Diagnóstico tardio.

Resumo

Trata-se de um relato de caso de um homem, de 42 anos, caminhoneiro, o qual diz ser portador de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) há 12 anos, em uso irregular de metformina, insulina e associação de análogo de GLP-1 com inibidor de SGLT-2 (iSGLT-2), HbA1c recente de 14%. Relatou início abrupto do quadro hiperglicêmico após uso de prednisona aos 30 anos. Três meses antes da internação atual, apresentou prostatite após período de baixa ingestão hídrica, possivelmente favorecida pelo iSGLT-2. Evoluiu desde então com lombalgia e uso frequente de anti-inflamatório não esteroidal (AINE) até 14 comprimidos/semana. Foi admitido na emergência com dor lombar intensa, náuseas e vômitos. Gasometria arterial revelou cetoacidose diabética: pH 7,21; bicarbonato 9,3 mmol/L; glicemia 1075 mg/dL. Laboratoriais evidenciaram leucocitose (16.900/mm³) e aumento de PCR (205,3 mg/L). Tomografia de abdome mostrou abscesso perirrenal à direita (6,9 x 7,4 cm), com infiltração do músculo íleo-psoas. Diante do fenótipo magro, da falha terapêutica e da gravidade do quadro, reavaliou-se o diagnóstico de DM2. Foram solicitadas dosagens de Peptídeo C basal de 0,09 ng/mL e pós-estímulo, 30, 60 e 90 minutos, com valores persistentemente baixos: 0,10; 0,11 e 0,12 ng/mL respectivamente, que apontaram falência secretória pancreática. Entre os autoanticorpos pesquisados, anti-GAD e anti-tirosina fosfatase foram negativos, mas o anti-insulina foi positivo, confirmando o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 (DM1). O DM1 de início tardio pode ser erroneamente tratado como DM2 por anos, o que compromete a eficácia terapêutica e predispõe a complicações. A imprecisão diagnóstica, aliada ao uso irregular de fármacos inadequados neste caso, como os iSGLT-2, contribuiu diretamente para a cetoacidose grave. Assim, o quadro infeccioso, a automedicação com AINEs e o contexto de vida profissional foram o estopim da descompensação metabólica que há anos já vinha agredindo silenciosamente o organismo. Este caso reforça a importância da vigilância clínica contínua e da reavaliação diagnóstica em endocrinologia. Identificar o tipo de diabetes não é um detalhe burocrático, mas um passo essencial para evitar complicações graves, oferecer um prognóstico satisfatório e garantir a qualidade de vida do paciente no médio e longo prazo.

Biografia do Autor

  • Nícolas Oliveira Moura, UFFS

    Médico Residente em Clínica Médica no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP/UFFS)

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Pesquisa - Campus Passo Fundo