Os ÍNDICES INFLAMATÓRIOS SISTÊMICOS EM CÃES COM NEOPLASIAS
Palavras-chave:
prognóstico, biomarcador, neoplasia, cãesResumo
A inflamação crônica está ligada a patogênese e a progressão do câncer, tanto em humanos quanto em animais. A resposta inflamatória sistêmica pode influenciar diretamente o microambiente tumoral, promovendo a proliferação celular, a angiogênese e a supressão da resposta imune antitumoral. Na oncologia veterinária, biomarcadores sanguíneos derivados de índices inflamatórios sistêmicos, como a razão neutrófilos/linfócitos (RNL), a razão monócitos/linfócitos (RML) e a razão plaquetas/linfócitos (RPL), são frequentemente utilizados devido à sua acessibilidade e custo-benefício. Embora esses marcadores individuais sejam mais rotineiramente utilizados no prognóstico de doenças inflamatórias e neoplasias, eles fornecem apenas uma visão parcial da complexa interação entre a inflamação e o câncer, pois é a combinação de múltiplos parâmetros que pode oferecer um reflexo mais preciso e abrangente do estado inflamatório e imune do paciente. O valor de inflamação pan-imune (PIV do inglês pan-immune-inflammation value) é um escore composto que integra os níveis de neutrófilos, monócitos, plaquetas e linfócitos e representa uma medida mais complementar da resposta inflamatória descontrolada associada ao microambiente tumoral. Na oncologia humana, a combinação de múltiplos marcadores já é considerado um fator prognóstico superior, sendo o PIV identificado como um preditor independente de mortalidade mesmo em análises multivariadas. O objetivo deste estudo é avaliar o PIV como possível prognóstico de neoplasias em cães. Para tanto, foram utilizados dados retrospectivos obtidos dos históricos de 22 pacientes que realizaram consultas oncológicas na Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária entre 2021 e 2025. Os critérios de inclusão foram pacientes com diagnóstico neoplásico confirmado por exame histopatológico e hemograma completo. Através do hemograma, os índices inflamatórios individuais (RNL, RML, RPL) e o PIV foram calculados. Os resultados mostraram média de 7,10 na RNL, 0,59 na RML, 241,77 na RPL e uma mediana de PIV de 870,34. Foi observado que a RNL estava acima dos valores de referência em quase um quinto dos pacientes, assim como a RML e RPL estiveram acima em 9% dos casos. Apenas um animal teve todos os índices acima dos valores de referência, fazendo parte dos 8% que foram à óbito, e neste caso, onde os valores de RNL, RML e RPL foram de 16,20, 1,60, e 590,47 respectivamente, o valor de PIV esteve em 8.268,22, diante de uma média de 3.986,84 entre todos os casos. O PIV se mostrou acima da sua própria média em 60% dos casos onde algum índice inflamatório sistêmico isolado se mostrou alterado. Além disso, 45% dos animais do estudo apresentavam linfócitos reativos, 31% tinham neutrofilia e 27% leucocitose. Por via de regra, em pacientes com câncer, índices inflamatórios sistêmicos mais baixos são associados a uma sobrevida livre de doença. Em contrapartida, pacientes com índices inflamatórios sistêmicos altos apresentam vias ligadas à progressão tumoral e transição epitelial-mesenquimal, sendo um fator de prognóstico adverso, associado a menor sobrevida e pior resposta ao tratamento. Mais estudos são necessários para validar se o PIV e seu uso na prática clínica pode oferecer uma visão mais fiel da interação entre a inflamação sistêmica, a resposta imune antitumoral e a progressão da doença em cães.
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Copyright (c) 2025 Lara Maria Costa da Silva, Dra. Profa. Fabíola Dalmolin, Dra. Profa. Fabiana Elias, Dra. Profa. Luciana Pereira Machado

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