A (NÃO) NEUTRALIDADE DA CIÊNCIA
Palavras-chave:
Ciência, Neutralidade, Ciências SociaisResumo
O presente resumo tem como finalidade estabelecer uma discussão crítica a respeito da não neutralidade da ciência, colocando em conflito os considerados três “fundadores da sociologia”, para sustentar a tese de que a ciência não é neutra, ao contrário, responde a interesses e financiamento de classes sociais. Analisando a forma em que Modernidade se consolida na história, através de teorias filosóficas que sustentaram uma nova concepção de mundo, de produção e de relações sociais, têm-se a valorização do sujeito, da razão, sintetizando um momento histórico de valorização do indivíduo em contraposição ao período da Idade Média, em que a ideia de sagrado, representada pelo rei e a igreja eram elementos fundamentais para a construção do mundo social. Para concretizar as novas formas que surgiam era preciso se opor radicalmente as antigas, baseadas em um mundo encantado, nas relações feudais de produção. Com o otimismo em relação a capacidade humana da razão que o sujeito poderia alcançar enquanto noções de regras, métodos para se atingir o conhecimento, surge então o Iluminismo como base filosófica deste período, trazendo a razão contra o encantamento, a “luz contra as trevas”, servindo de base filosófica para a Revolução Francesa. Com a nova ordem social se formatando, a crescente industrialização da sociedade no século XIX, a burguesia ascendente, surge, pautado na ideia de hierarquização do saber, na tentativa de compreensão da sociedade através do conhecimento científico, o Positivismo. Tendo como figura central Augusto Comte, estabelece-se a “física social”: a sociedade, regida como as ciências naturais, por leis naturais e invariáveis, uma ciência neutra e livre de juízos de valor, pautada na ideia de previsibilidade, progresso e mantenedora da ordem. Influenciando a ciência moderna até os dias de hoje, essa ideia de ciência positiva, neutra e objetiva também viria a influenciar o chamado “pai da sociologia” Émile Durkheim. Para o autor, a objetividade e a neutralidade eram peças fundamentais para o estudo dos fatos sociais, estes, deveriam ser tratados como coisas, externos, gerais e coercitivos, o cientista deveria manter o afastamento que garantiria a objetividade na sua pesquisa. Em contraste, Max Weber, outro pioneiro da Sociologia, levava em conta as subjetividades dos agentes, as visões de mundo, valores e crenças, estes servindo apenas para delimitar a área de pesquisa, sendo os resultados livres de julgamentos de valor, em uma “neutralidade axiológica”. Tendo este, muitas vezes, como interlocutor Karl Marx e os desdobramentos da teoria marxiana, têm-se aqui, o caráter intrínseco entre a posição de classe e a mediação com o mundo social, com a infraestrutura e a superestrutura delimitando a consciência e a prática dos indivíduos. A própria ideia de neutralidade é então uma ideologia, a falsa consciência que corresponde ao interesse de classe escamoteando a realidade, o conflito das classes sociais e a exploração de uma classe sobre outra, onde as ideias da classe dominante determinam em cada época as ideias dominantes. Estendo tal concepção as produções científicas de determinada época, a própria pesquisa científica seria também financiada e instrumentalizada a partir de interesses de classes.
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