RELATO DE EXPERIÊNCIA: AMBULATÓRIO INDÍGENA PE. ELLI BENINCÁ

Autores

  • Gabriela Erthal Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Leandro Tuzzin

Palavras-chave:

saúde de populações indígenas, prática integral de cuidados em saúde, assistência ambulatorial

Resumo

A saúde dos povos indígenas no Brasil ainda é marcada por desigualdades históricas, racismo estrutural, barreiras culturais e geográficas que dificultam o acesso a serviços de qualidade. Esse contexto resulta em indicadores epidemiológicos desfavoráveis, como maior mortalidade infantil e menor cobertura vacinal quando comparados à população não indígena. Diante dessa realidade, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em parceria com o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), instituiu, em 2021, o Ambulatório Indígena Pe. Elli Benincá, em Passo Fundo. O espaço tem como objetivo oferecer um cuidado integral, acolhedor e culturalmente sensível às populações Kaingang e Guarani, residentes em 88 municípios da macrorregião norte do Rio Grande do Sul. O ambulatório funciona no campus da UFFS, contando com equipe multiprofissional composta por docentes, discentes do curso de Medicina e profissionais do HSVP, em articulação com a 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e lideranças locais. Um diferencial essencial é a presença de intérpretes Kaingang bilíngues, que promovem comunicação eficiente e respeitosa com pacientes que não dominam a língua portuguesa, conforme recomenda a literatura sobre saúde intercultural. O fluxo de atendimento é construído de forma colaborativa com as comunidades, incluindo levantamento de demandas, acolhimento, consultas, procedimentos, encaminhamentos especializados e devolutivas. Os estudantes participam ativamente de todas as etapas, fortalecendo a formação prática baseada em metodologias ativas e educação popular em saúde. Desde sua criação, o ambulatório já possibilitou a realização de mais de oito mil procedimentos, com grande demanda em áreas como ginecologia, neurologia, dermatologia, oftalmologia e clínica médica. Além do impacto assistencial, observa-se o fortalecimento de vínculos com os serviços de saúde, promovendo maior confiança das comunidades indígenas no Sistema Único de Saúde (SUS) e possibilitando a continuidade do cuidado. No campo da formação acadêmica, a experiência amplia horizontes para além da técnica, desenvolvendo escuta ativa, empatia, criticidade e consciência social, competências fundamentais para médicos que atuarão em contextos de vulnerabilidade e diversidade cultural. Assim, o Ambulatório Indígena Pe. Elli Benincá consolida-se como uma prática de extensão universitária transformadora, que integra ensino, pesquisa e compromisso social. Ao valorizar a interculturalidade, respeitar saberes tradicionais e promover a equidade, o projeto contribui para a efetivação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, fortalecendo o SUS como sistema universal, equitativo e intercultural

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Extensão & Cultura - Campus Passo Fundo