TERRITORIALIDADES CAMPONESAS NO PARANÁ: LUTA PELA TERRA, REFORMA AGRÁRIA E SUAS REPRESENTAÇÕES NA ESCALA REGIONAL
Palavras-chave:
Reforma Agrária, Assentamentos, CamponêsResumo
No Brasil, a reforma agrária permanece como um processo em construção, resultante da luta contínua dos camponeses pela terra. O Censo Agropecuário de 2017 evidencia a concentração fundiária: 50,91% dos estabelecimentos rurais possuem menos de 10 hectares, mas ocupam apenas 2,28% da área utilizada; já as propriedades com mais de 1.000 hectares representam 47,60% da terra disponível, embora constituam apenas 1,03% do total de estabelecimentos. Essa assimetria revela a permanência histórica da questão agrária no país, tornando a luta pela terra elemento central do campesinato. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo analisar as primeiras lutas por reforma agrária no Território da Cidadania Cantuquiriguaçu, no estado do Paraná. Os objetivos específicos consistem em compreender a dinâmica desses conflitos antes de 1996, identificar os municípios envolvidos, reconhecer as motivações que levaram aos enfrentamentos e analisar os resultados alcançados, produzindo ainda registros cartográficos, textuais e fotográficos da luta. A pesquisa é de caráter qualitativo e fundamenta-se no materialismo histórico e dialético. Metodologicamente, articula estudo bibliográfico, levantamento de dados em bases oficiais e pesquisa de campo, com aplicação de entrevistas semiestruturadas a cinco camponeses no período de 2024 e 2025. Os resultados apontam que as ocupações de terra realizadas antes de 1996 foram decisivas para a constituição de uma base social e territorial no Território Cantuquiriguaçu. Embora apresentassem caráter local e pouca articulação entre si, essas lutas resultaram na criação de 33 assentamentos rurais, abrangendo 1.126 famílias em nove municípios (Pinhão, Cantagalo, Candói, Goioxim, Laranjeiras do Sul, Nova Laranjeiras, Espigão Alto do Iguaçu, Quedas do Iguaçu e Campo Bonito), totalizando 27.096 hectares conquistados. Essas experiências, ainda que fragmentadas, consolidaram-se como estratégias camponesas de enfrentamento ao latifúndio e abriram caminho para novos embates, especialmente contra a empresa Araupel, detentora da maior área concentrada da região. As lutas posteriores, sustentadas por essa trajetória inicial, ampliaram o número de assentamentos e reforçaram a presença da agricultura camponesa no território. Atualmente, o Território Cantuquiriguaçu conta com 49 assentamentos, cuja origem remonta, em grande medida, às conquistas do período anterior a 1996. Conclui-se que a reforma agrária, materializa-se como resultado direto da organização e resistência camponesa, revelando que o acesso à terra é fruto da luta coletiva e se constitui como direito fundamental à terra de trabalho e vida.
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