RELATO DE EXPERIÊNCIA DE MONITORIA COM ESTUDANTE AUTISTA

Autores

  • Sonize Lepke Universidade Federal Fronteira Sul(UFFS) - Campus Erechim
  • Betânia do Prado da Silva
  • Mairi do Prado da Silva
  • Elisabete Cristina Hammes

Palavras-chave:

Formação em serviço, Autismo, inclusão escolar

Resumo

Neste Relato de Experiência apresento meu processo de formação em serviço, realidade vivenciada por muitos colegas de profissão, que assumem a tarefa de acompanhar e dar suporte a alunos autistas na escola regular, sem ter acesso à formação específica. O objetivo principal é apresentar a minha experiência enquanto monitora deste estudante, em uma escola da rede municipal de ensino  do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Atuei por três anos como monitora em uma escola municipal, acompanhando um estudante com autismo severo. O aluno estava com 7 anos, e foi diagnosticado com autismo de nível 3.  Logo no início, enfrentei enormes desafios: o aluno era não verbal, agressivo, tinha crises epilépticas frequentes — e eu, sem formação específica, sem preparo emocional e, o pior, sem o apoio institucional que tanto precisava. Muitas vezes, fui agredida fisicamente. Senti dor. Chorei. Me senti invisível. Busquei a Secretaria Municipal de Educação pedindo transferência de turma, apenas para ouvir recusas e a impossibilidade de encontrar  substituta para uma situação complexa.  Mas ao invés de desistir, escolhi aprender. Foi por amor e insistência que abri caminhos: Conversei com a mãe do estudante, ouvindo suas experiências e buscando compreender sua realidade. Estudei sobre autismo, epilepsia e regulação emocional, muitas vezes nos intervalos do meu dia. Fiz anotações e observações diárias sobre o comportamento dele. Criei uma rotina estruturada com imagens personalizadas — com ele como protagonista — que guiavam desde sua chegada até a saída da escola. Desenvolvi, sozinha, atividades adaptadas aos seus interesses. Aos poucos, aquilo que era dor virou aprendizado. Aquilo que era medo virou vínculo. Descobri que ele gostava de movimentos repetitivos, sons específicos, determinados gestos de carinho. Aprendi a respeitar seus tempos e celebrar cada mínima conquista. Os avanços vieram. Pequenos para muitos — imensos para nós dois. E, com o passar do tempo, tive uma grata surpresa: descobri que havia uma profissional que também acompanhava esse mesmo aluno em outro município, no turno inverso. Até então, essa informação nunca havia sido compartilhada comigo. Passamos a realizar encontros online para troca de experiências, estratégias e escutas — e isso, para mim, foi um divisor de águas. Saber que alguém compreendia o que eu vivia e podia partilhar comigo caminhos possíveis me fortaleceu profundamente. Hoje, sei o quanto essa experiência me moldou. Se eu tivesse que passar por tudo novamente, com os conhecimentos que construí, eu faria melhor. Porque agora sei que o amor aliado ao conhecimento transforma realidades. E sobretudo, sei que professores e monitores como eu não podem ser deixados sozinhos nessa missão. De modo que posso afirmar que a escolarização dos estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) deverá ocorrer, preferencialmente, no ensino regular, porém, com apoio pedagógico especializado e adaptações que garantam a aprendizagem, a comunicação, a socialização e o desenvolvimento global desses alunos.

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências Humanas - Ensino - Campus Erechim