BLOQUEIO INTERCOSTAL PARA CORREÇÃO DE RUPTURA DIAFRAGMÁTICA RECIDIVANTE EM CÃO
Palavras-chave:
Anestesia locorregional, Cirurgia torácica, Protocolo multimodal, Trauma torácicoResumo
O presente trabalho descreve o manejo anestésico de uma cadela, sem raça definida, com dois anos de idade e 17,4 kg, submetida à correção cirúrgica de ruptura diafragmática recidivante. O animal foi encaminhado em março para a Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU) da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Realeza - PR, após histórico de atropelamento. Ao exame físico inicial observou-se dispneia, hipofonese e ausculta de borborigmos em hemitórax esquerdo, achados compatíveis com deslocamento de alças intestinais para a cavidade torácica. O diagnóstico de ruptura diafragmática foi confirmado por exames por imagem e a primeira correção cirúrgica foi realizada. Em agosto, a paciente retornou apresentando episódios frequentes de êmese, perda de peso e suspeita de recidiva da ruptura, a qual foi confirmada por exame radiográfico. Na avaliação pré-anestésica, a cadela foi classificada como ASA III (American Society of Anesthesiologists), em decorrência do comprometimento cardiorrespiratório secundário ao deslocamento visceral. O protocolo anestésico empregado consistiu em medicação pré-anestésica com metadona (0,5 mg/kg), cetamina (8 mg/kg) e midazolam (0,5 mg/kg), IM. A indução foi realizada com propofol (4 mg/kg) IV, seguida de intubação orotraqueal e manutenção com isoflurano em oxigênio a 100%, cuja concentração alveolar mínima (CAM) permaneceu em média de 1,7% durante o procedimento. Foi realizado bloqueio intercostal às cegas nos 6° ao 10° espaços intercostais, utilizando lidocaína sem vasoconstritor (3 mg/kg) associada à bupivacaína com vasoconstritor (2 mg/kg). A técnica foi executada com agulha hipodérmica fina (25x0,8mm), inserida próxima à margem caudal de cada arco costal, com aspiração prévia a fim de evitar injeção intravascular ou intrapleural acidental, seguida de administração lenta do anestésico local. O bloqueio intercostal baseia-se na interrupção da condução nervosa nos nervos intercostais, responsáveis pela inervação somática visceral e sensitiva da parede torácica, musculatura intercostal e pleura parietal. Para efetividade clínica, foram contemplados múltiplos espaços adjacentes à incisão cirúrgica, com a vantagem de reduzir a necessidade de anestésico inalatório, minimizar respostas autonômicas aos estímulos nociceptivos, proporcionar analgesia nos períodos trans e pós-operatório imediato e favorecer a ventilação espontânea, fatores fundamentais em pacientes com comprometimento cardiorrespiratório. Adicionalmente, foram administrados ceftriaxona (30 mg/kg) IV, dipirona (25 mg/kg) e meloxicam (0,2 mg/kg) SC como fármacos auxiliares. O monitoramento contemplou eletrocardiografia, oximetria de pulso, capnografia, pressão arterial e temperatura. Durante o procedimento, registrou-se temperatura corporal média de 37,4 °C, frequência cardíaca de 118 bpm, frequência respiratória de 12 mpm, saturação periférica de oxigênio (SpO₂) de 92%, pressão parcial de dióxido de carbono ao final da expiração (ETCO₂) de 43 mmHg, pressão arterial sistólica de 114 mmHg e diastólica de 58 mmHg. Apesar da saturação periférica relativamente baixa, tal achado foi atribuído ao comprometimento pulmonar decorrente da restrição pulmonar prévia. O procedimento cirúrgico teve duração aproximada de 30 minutos e transcorreu sem intercorrências anestésicas relevantes. O protocolo empregado demonstrou eficácia na manutenção da estabilidade cardiorrespiratória e no controle da dor intraoperatória, reforçando a relevância da analgesia multimodal e do monitoramento intensivo em pacientes com ruptura diafragmática, dada a alta complexidade e os riscos associados a este tipo de intervenção.
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