A AVALIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA ENTRE AS TEMPERATURAS RETAL E ESOFÁGICA DURANTE MASTECTOMIA EM CADELAS
Palavras-chave:
Monitoramento anestésico; Concordância de parâmetros; Termorregulação.Resumo
A perda de calor durante procedimentos cirúrgicos ocorre principalmente devido à inibição direta do centro de termorregulação ocasionada por anestésicos. Esses fármacos tendem a reduzir a taxa metabólica, diminuindo a produção de energia e consequentemente de calor durante o período transoperatório. Somam-se a esses fatores a baixa temperatura do ambiente cirúrgico, o uso de gases secos como oxigênio e isoflurano e a vasodilatação induzida pela anestesia, que acelera a redistribuição do calor corporal. A dissipação de calor ocorre por quatro mecanismos principais: radiação, condução, convecção e evaporação. Procedimentos longos e cruentos, como a mastectomia, intensificam esse quadro, uma vez que tecidos permanecem expostos por tempo prolongado, favorecendo a dissipação de temperatura e a perda de fluidos corporais. No presente relato, uma cadela da raça Pinscher, fêmea, seis anos de idade, foi encaminhada à Superintendência Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU) para realização de mastectomia unilateral direita. O protocolo anestésico incluiu cetamina (7 mg/kg + 4 mg/kg), midazolam (0,5 mg/kg) e metadona (0,5 mg/kg), como medicação pré-anestésica, administrados por via intramuscular. A indução foi realizada com propofol (4 mg/kg) e a manutenção com isoflurano em oxigênio a 100%. Para analgesia locorregional, optou-se por bloqueio intercostal realizado às cegas nos espaços correspondentes às 5ª, 6ª e 7ª vértebras torácicas, utilizando lidocaína sem vasoconstritor (2,5 mg/kg) associada à bupivacaína com vasoconstritor (2,5 mg/kg) e adrenalina (1 mL). Como fármacos auxiliares, foram empregados ampicilina (20 mg/kg), dipirona (25 mg/kg) e meloxicam (0,2 mg/kg). O procedimento durou 1h20 e contou com monitoramento multiparamétrico, incluindo pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória, saturação periférica de oxigênio, capnografia e temperatura corporal. A aferição da temperatura foi realizada tanto por via esofágica quanto retal, evidenciando valores médios distintos: 34,6 °C (intervalo de 36-34,4 °C) no esôfago e 35,1 °C (intervalo de 36-34,8 °C) no reto. A temperatura esofágica reflete de modo mais imediato a perda de calor do núcleo corporal devido à íntima relação entre o esôfago e as estruturas torácicas com intenso fluxo sanguíneo, sendo considerada mais sensível às variações centrais. Já a temperatura retal sofre maior interferência da perfusão periférica e da presença de conteúdo fecal, o que pode superestimar a real condição térmica do paciente e retardar a detecção de hipotermia. Estudos comparativos entre métodos diferentes de monitoramento da temperatura corporal demonstram que a temperatura retal apresenta uma diferença média de ±0,72°C com a temperatura esofágica, considerada como referência, o que demonstra certa equivalência nos dois métodos. No caso descrito, houve discrepância de aproximadamente 0,5°C entre os valores esofágicos e retais, o que demonstra concordância do parâmetro, estando no valor de referência dentro dos estudos realizados. Por fim, o monitoramento contínuo da temperatura corporal, permite identificar precocemente a queda térmica e instituir medidas de aquecimento eficazes, prevenindo complicações trans-anestésicas como arritmias, depressão cardiovascular, coagulopatias e atraso na recuperação no pós-cirúrgico. Dessa forma, o controle térmico deve ser entendido como parte essencial do manejo anestésico em pequenos animais.
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