O tempo como expressão de angústia em Os Ratos
Palavras-chave:
literatura sul-rio-grandense; romance brasileiro; subjetividade; tempo psicológico; angústiaResumo
Este trabalho tem como objetivo analisar a categoria do tempo no romance Os Ratos (1935), de Dyonélio Machado, buscando compreender de que modo a construção temporal contribui para a expressão da angústia vivida pelo protagonista, Naziazeno Barbosa. A narrativa, que se concentra em um único dia, apresenta uma estrutura marcada pela tensão entre o tempo cronológico e o tempo psicológico, revelando o desgaste emocional e físico de um sujeito em luta constante contra suas limitações. A metodologia consistiu em uma análise literária de caráter qualitativo, com foco na leitura atenta da obra e na articulação de conceitos de teoria da narrativa e estudos sobre o tempo. Para além da descrição do enredo, buscou-se compreender os mecanismos literários que possibilitam a deformação temporal, bem como o papel das digressões e dos monólogos internos na constituição da subjetividade de Naziazeno. Essa abordagem foi fundamental para observar como a angústia se manifesta não apenas no conteúdo narrado, mas também na forma de organização da narrativa. O referencial teórico mobilizado inclui autores que se dedicaram a discutir a narrativa e a categoria do tempo. Mendilow (1972) e Humphrey (1976) oferecem subsídios para entender o tempo psicológico e a técnica do fluxo da consciência; Lukács (1965) contribui com reflexões sobre o papel da descrição na construção da presença e da interioridade; e Todorov (2011) fornece elementos estruturais para a análise da narrativa. Os resultados da análise indicam que o tempo cronológico funciona como pano de fundo, delimitando as horas do dia em que o protagonista tenta conseguir o dinheiro necessário para pagar uma dívida. Contudo, é o tempo psicológico que se sobressai, fragmentado e marcado por digressões, memórias, sintomas físicos e repetições mentais. Essa temporalidade subjetiva dá ao romance um ritmo irregular, no qual a linearidade da ação é constantemente interrompida pelas reflexões e pela interioridade do personagem. O tempo externo, que avança em direção a um desfecho, é constantemente sobreposto pelo tempo interno, que se dilata e intensifica a percepção da angústia. Conclui-se que em Os Ratos revela a dimensão existencial da obra, ao evidenciar como a subjetividade do protagonista se desorganiza diante da pressão do cotidiano. O tempo, nesse contexto, deixa de ser apenas um recurso estrutural e passa a constituir o próprio núcleo da representação da angústia, mostrando como a literatura pode, de maneira simbólica, transmitir fragmentos da interioridade humana.
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