TONS DE PELE, PORQUE NÃO EXISTE SÓ UMA COR: EXPERIÊNCIAS DE UM ESTÁGIO ANTIRRACISTA NA INFÂNCIA

Autores

  • Andressa Lopes Krause Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Flávia Burdzinski de Souza Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

Estágio supervisionado, Educação Infantil , Educação Antirracista

Resumo

Este relato de experiência tem como foco o Estágio em Educação Infantil, realizado com crianças de cinco anos, em uma escola municipal do Alto Uruguai Gaúcho, durante o sexto semestre do curso de Pedagogia. A duração do estágio foi de 100 horas, organizadas em três etapas: observação, planejamento e monitoria. O estágio proporcionou um contato direto com a prática docente, possibilitando compreender as especificidades do cotidiano da Educação Infantil e estabelecer uma relação entre os conhecimentos teóricos construídos na Universidade e as realidades encontradas nas salas de referência. A Educação Infantil, enquanto primeira etapa da Educação Básica, possui como princípio a indissociabilidade entre educar e cuidar, promovendo experiências que ampliam aquelas vivenciadas que são trazidas do âmbito familiar. Nesse contexto, o período de observação revelou situações significativas para a escolha da temática de investigação, como o uso recorrente do lápis denominado “cor de pele”. Esses episódios evidenciaram a necessidade de promover debates sobre diversidade e identidade, conduzindo ao desenvolvimento de um planejamento pautado em uma educação antirracista. O percurso de estágio foi organizado em torno de propostas que buscassem ampliar o repertório cultural das crianças e possibilitar novas formas de reconhecimento e valorização da diversidade. Entre as ações desenvolvidas destacam-se: a produção de diferentes tonalidades de cor de peles por meio da mistura de tintas; a criação de autorretratos e representações corporais; a contação de histórias com personagens e autores/as da cultura negra; rodas de conversa sobre expressões racistas; a exibição do curta-metragem “Dudu e o Lápis Cor da Pele”, que despertou reflexões críticas; e uma vivência cultural com a prática da capoeira, conduzida por um professor convidado, que abordou sua relevância histórica e social enquanto expressão de resistência. Além das propostas realizadas com as crianças, o processo contou com registros em áudio, fotografias, vídeos e mini-histórias, em consonância com as normativas das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que orientam a documentação pedagógica como recurso de acompanhamento das aprendizagens. Essa prática possibilitou refletir sobre as intencionalidades das crianças em suas falas, brincadeiras e interações, enriquecendo a análise e permitindo a continuidade dos processos. A experiência revelou também desafios, especialmente a necessidade de ampliar o próprio repertório como pedagoga, superando visões estereotipadas frequentemente encontradas em materiais sobre a temática. Esse movimento contribuiu para compreender a presença estrutural do racismo e a urgência de desconstruí-lo desde a primeira etapa da educação básica. Conclui-se que o estágio possibilitou às crianças reconhecerem-se em sua diversidade, desenvolverem atitudes de respeito e empatia e ampliarem suas referências culturais. Assim, a experiência reafirma a importância da abordagem transversal da temática étnico-racial como prática pedagógica essencial para a construção de uma educação antirracista, inclusiva e comprometida com os princípios éticos, estéticos e políticos da Educação Infantil.

 

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências Humanas - Pesquisa - Campus Erechim