RELIGIÃO, NATUREZA E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA GEOGRAFIA CULTURAL

Resumo

O estudo da religião pela Geografia tem como base a compreensão das manifestações espaciais do fenômeno religioso, pela abrangência e expansão de uma determinada religião e pelo uso de determinados espaços denominados sagrados, e também pelas manifestações e estruturas simbólicas. Desde os primórdios da organização social humana, a falta de compreensão sobre os fenômenos naturais levou as pessoas a explicarem o mundo por meio de mitos. Nesse contexto, o espaço é simbolizado pelo pensamento mítico, até alcançar o estágio de pura abstração. Este trabalho resulta de um ensaio desenvolvido no âmbito do CCR de Geografia Cultural e tem como objetivo compreender a relação entre ser humano e natureza mediada pela religião, a partir da análise das percepções de líderes cristãos vinculados a denominações evangélicas. Busca-se discutir como tais percepções estão profundamente imbricadas ao pensamento religioso, influenciando a forma pela qual os indivíduos interpretam e interagem com o meio ambiente. Fundamenta-se em entrevistas realizadas com um casal de pastores de uma pequena igreja evangélica situada no interior do Rio Grande do Sul e com sua filha, integrante do ministério de louvor em uma igreja localizada em Goiânia, Goiás. Nessas entrevistas, foram exploradas as percepções sobre a relação entre a natureza, Deus e o ser humano, construídas a partir de suas experiências e referenciais teológicos. A entrevista revelou que, dentro das diversas formas de pensar do cristianismo, há uma complexidade nas perspectivas sobre a relação entre sociedade e natureza, que varia de um ponto de vista antropocêntrico para o da interdependência multiespécie. Sob a perspectiva cristã, essa relação é marcada por sua complexidade e diversidade de interpretações. Embora os entrevistados concordem com a base teológica cristã que eleva a importância do ser humano em relação à natureza, eles também demonstram sensibilidade e cuidado com o mundo ao seu redor. Essa abordagem reflete um reconhecimento do valor intrínseco da vida natural, evidenciando uma postura equilibrada que integra o papel humano na criação com o respeito e a preservação do meio ambiente. Enquanto a base teológica tradicional enfatiza a superioridade humana sobre a natureza, interpretações mais contemporâneas conciliam essa visão com uma postura ética de cuidado e respeito, reconhecendo a importância de preservar o equilíbrio e o valor intrínseco do mundo natural.