DO MITO DA SUPERAÇÃO AO SUJEITO EXAUSTO: UMA LEITURA DISCURSIVA DO JOVEM EMPREENDEDOR A PARTIR DE BAKHTIN, BENJAMIN E BARTHES
Palavras-chave:
discurso; subjetividade; jovem empreendedor; cultura do desempenho.Resumo
O discurso do jovem empreendedor consolidou-se, nas últimas décadas, como uma das narrativas mais influentes na constituição de subjetividades contemporâneas, especialmente entre jovens submetidos a contextos de instabilidade socioeconômica, precarização do trabalho e exposição midiática intensa. A pesquisa proposta tem como objetivo analisar esse discurso sob a perspectiva das teorias de Mikhail Bakhtin, Walter Benjamin e Roland Barthes, buscando compreender suas estratégias de significação, seus efeitos de interpelação subjetiva e suas articulações com a cultura do desempenho. O problema que orienta o estudo indaga de que modo esse discurso, marcado pela valorização da produtividade, da autossuficiência e da superação individual, opera na constituição de sujeitos tensionados entre a onipotência performática e a vulnerabilidade emocional. Metodologicamente, a pesquisa se fundamenta em uma abordagem qualitativa, exploratória e interpretativa, inscrita no campo da análise de discurso de orientação socio-histórica. O corpus será composto por materiais de ampla circulação entre 2020 e 2025, incluindo postagens e vídeos em mídias sociais, campanhas institucionais, palestras e peças publicitárias que tematizem o empreendedorismo juvenil. A análise será conduzida a partir de três eixos teóricos complementares: o dialogismo e a polifonia em Bakhtin, que permitem identificar as múltiplas vozes constitutivas desse discurso; a experiência, o tempo e a memória em Benjamin, que evidenciam os apagamentos e deslocamentos históricos que sustentam o ideal empreendedor; e o mito em Barthes, que possibilita compreender a naturalização de sentidos como “sucesso” e “superação”, transformados em evidências culturais aparentemente neutras. Pretende-se, ainda, articular a análise discursiva à obra literária As Metamorfoses, de Ovídio, explorando metáforas da transformação identitária como chaves de leitura da fluidez subjetiva contemporânea. Espera-se que a pesquisa contribua para o campo dos estudos linguísticos ao propor uma abordagem crítica e interdisciplinar da linguagem, ampliando o escopo da análise discursiva sobre práticas sociais emergentes. Do ponto de vista social, a investigação busca dar visibilidade às implicações do discurso empreendedor sobre a constituição subjetiva, destacando os efeitos de exaustão, precariedade e responsabilização individual produzidos por narrativas que exaltam modelos idealizados de sucesso. O estudo almeja, assim, tensionar os limites da agência no discurso empreendedor e fomentar reflexões sobre juventude, trabalho e subjetividade, em diálogo com os desafios formativos e culturais da contemporaneidade.
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