O ACOMPANHAMENTO LABORATORIAL DE MIOGLOBINÚRIA SECUNDÁRIA A RABDOMIÓLISE EM MACACO-BUGIO (ALOUATTA CARAYA)

Resumo

A mioglobina é uma proteína encontrada nos músculos, liberada na corrente sanguínea quando ocorre lesão muscular e pode ser filtrada pelos rins. A aspartato aminotransferase  (AST) é uma enzima citoplasmática e mitocondrial encontrada em células musculares esqueléticas. Relata-se o caso de um macaco bugio preto (Alouatta caraya), macho, aproximadamente 1 ano, encontrado debilitado por populares em Palotina/PR, apresentando múltiplas lesões traumáticas, incluindo ferida profunda em membro posterior direito e aumento de volume com drenagem purulenta em membro torácico direito. Na admissão, o paciente apresentava hematócrito de 29%, leucocitose de 60.000/µL com desvio à esquerda, acentuados neutrófilos tóxicos e linfócitos reativos, trombocitose de 825.000/µL, creatina quinase (CK) elevada em 8.552 U/L, a dosagem da enzima AST foi de 97 U/L e encontrava-se dentro do valor de referência para a espécie. A CK é uma enzima presente dentro das células musculares, no citoplasma dos miócitos. Na data de entrada, foi realizada hemocultura que isolou Staphylococcus aureus, indicando infecção secundária às lesões. No dia seguinte após a internação, houve aumento da CK para 9.354 U/L, a elevação gradual da CK refletiu necrose muscular traumática e infecciosa. Nove dias após, a urinálise revelou urina castanha persistente após centrifugação, densidade baixa (1.018) e ausência de hemácias na avaliação de lâmina, nessa data a CK estava em 5.564 U/L e a AST aumentada em 382 U/L. Nessa data, o soro do paciente estava com coloração característica da espécie, não possuindo sinais de hemólise, sugerindo mioglobinúria secundária à rabdomiólise. Embora a presença de urina com coloração escura não seja um indicador definitivo de mioglobinúria, a avaliação do quadro clínico e laboratorial sugere que a alteração foi causada por liberação de mioglobina. Apesar da mioglobinúria, não houve comprometimento renal, com creatinina sérica dentro dos valores de referência (0,69 mg/dL), provavelmente devido ao manejo hídrico adequado. Após dois meses, durante a evolução, observou-se melhora hematológica e redução gradual das enzimas musculares, com CK de 256 U/L e AST de 93 U/L. Na mesma data, a urinálise apresentou resultados compatíveis com os parâmetros normais para a espécie, evidenciando urina de coloração amarelo-pálida. A normalização dos parâmetros possibilitou o início do processo de reabilitação do animal antes da soltura, a qual foi realizada após três meses da data de internação.