EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES COM SERPENTES EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA-AMAZONAS

Autores

  • Acadêmico Reinaldo Gomes Fontes Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Dra. Marilia Hartmann Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Dr. Paulo Afonso Hartmann Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

Acidentes ofídicos; Serpentes peçonhentas; Saúde pública; Amazônia; Indígenas.

Resumo

Os acidentes ofídicos são de notificação obrigatória no Brasil, medida que possibilita a prevenção e a definição das áreas prioritárias para distribuição de soro antiofídico. O país abriga 430 espécies de serpentes registradas, das quais apenas 17% apresentam risco médico, principalmente  das famílias Elapidae e Viperidae, que são responsáveis pela maioria dos casos. A maior concentração de acidentes ofídicos ocorre na região Norte da América do Sul, especialmente na bacia Amazônica, área de elevada biodiversidade que abrange diferentes países e concentra grande variedade de espécies peçonhentas, que configuram risco ocupacional relevante. O Estado do Amazonas, maior em extensão territorial do Brasil, destaca-se como área de alta incidência desses eventos. Entre os 62 municípios do Amazonas, São Gabriel da Cachoeira é um município fronteiriço: Colômbia e Venezuela, com ampla extensão geográfica e população de 51.795 habitantes dispersa. O objetivo desse estudo foi analisar o número de acidentes ofídicos e os tipos de serpentes envolvidos em São Gabriel da Cachoeira, AM, entre 2014 e 2023. Os dados foram coletados a partir do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponível no site do DATASUS, via Tabnet. Para a análise, foi selecionada a categoria Acidentes por Animais Peçonhentos com abrangência geográfica por município, entre 2014 e 2023, e os dados foram organizados no software Excel, considerando o número de acidentes e os tipos de serpentes envolvidos. Nesse período foram registrados 861 acidentes com serpentes no município, correspondendo a uma média anual de 86,1 casos. O ano com menor número de casos foi 2015, com apenas 30  registros, enquanto o ano com maior incidência foi em 2019, com 123 acidentes. O número de registros de 2018 a 2023 foi acima da média, apontando uma tendência geral de crescimento de notificações. A exceção foi o ano de 2021, que apresentou uma queda acentuada, possivelmente relacionada à subnotificação de acidentes durante a pandemia de COVID-19. Dos registros, 633 casos correspondem a serpentes do gênero Bothrops, seguidos por Lachesis (11), Crotalus (8) e Micrurus (2), enquanto serpentes não peçonhentas foram responsáveis por 10 dos acidentes.  Serpentes ignoradas (sem identificação) ou em branco na ficha corresponderam a 197 notificações. A análise anual dos acidentes ofídicos indicou que, em 2016 e 2017, as notificações envolveram o gênero Bothrops e alguns casos ignorados. Nos anos de 2018, 2019 e 2022, verificou-se aumento no número de registros classificados como ignorados ou em branco, com destaque para 2019. O número elevado de acidentes reflete as condições socioculturais e geográficas da região, como o contato direto da população indígena com a floresta e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, o que reforça a necessidade de políticas públicas de prevenção e melhoria no atendimento nas áreas mais isoladas. Os dados reforçam a necessidade de educação ambiental, com ênfase no uso de Equipamentos de Proteção Individual, diante da elevada incidência de acidentes causados pelos gêneros Bothrops e Lachesis, além dos casos de ignorados. Destaca-se a importância de palestras preventivas e capacitação de profissionais para maior precisão no preenchimento das notificações.

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências Biológicas - Pesquisa - Campus Erechim