PREVALÊNCIA DO USO DE AGROTÓXICOS E DE DESFECHOS REPRODUTIVOS EM AGRICULTORAS DE SANTA CRUZ DO SUL

Autores

  • Yasmin Gabriela Peixoto Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Vanderleia Laodete Pulga Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Nádia Spada Fiori Universidade Federal de Pelotas
  • Shana Ginar da Silva Universidade Federal da Fronteira Sul

Palavras-chave:

Saúde da População Rural, Saúde da Mulher, Agroquímicos

Resumo

Atualmente, o Brasil ocupa a primeira posição mundial no consumo de herbicidas, sendo a região Sul responsável por aproximadamente 30% do total utilizado no país. O uso crescente e intenso de agrotóxicos na agricultura expõe trabalhadoras rurais a riscos significativos, uma vez que esses compostos podem resultar em efeitos desreguladores endócrinos, mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos, manifestando-se antes, durante e após a concepção. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo descrever a prevalência de exposição aos agrotóxicos e de desfechos de saúde reprodutiva em mulheres agricultoras de Santa Cruz do Sul, RS. Caracteriza-se como um estudo transversal, descritivo, realizado entre março a agosto de 2025, com agricultoras residentes em Santa Cruz do Sul associadas ao Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares (STAF) do município. A amostra foi definida e selecionada de forma probabilística, a partir da listagem das sindicalizadas fornecida pelo STAF. As entrevistas foram realizadas a partir de visitas domiciliares com instrumento pré-testado e desenvolvido para o próprio estudo. As prevalências de exposição aos agrotóxicos foram avaliadas com base em três questões, as quais investigaram o uso dos agroquímicos no domicílio, na propriedade rural e a manipulação destes de forma direta ou indireta pelas mulheres participantes, seja no domicílio ou na propriedade. Os desfechos reprodutivos avaliados foram alterações no aparelho reprodutivo, cirurgia prévia no sistema reprodutor e irregularidades menstruais, os quais foram auto reportados no momento da entrevista. Para a análise de dados foi utilizada estatística descritiva com a distribuição de frequências absolutas e relativas (n, %) no programa PSPP. A amostra foi composta por 108 mulheres, majoritariamente com idade igual ou acima de 60 anos (60,2%), brancas (99,1%), casadas (63,9%), com ensino fundamental incompleto (64,8%), com 50 anos ou mais de trabalho na agricultura (49,1%), com 50 anos ou mais de moradia na zona rural (75%) e produtoras de fumo (80,6%). Em relação à exposição aos agrotóxicos, a maioria das mulheres entrevistadas usa os compostos no domicílio - jardim ou horta - (63,6%), mas a maioria não é responsável pela aplicação (52,2%), o que não impede o contato indireto com o produto. Na propriedade de cultivo, o uso de agroquímicos foi quase unânime (97,2%) e todas as usuárias dos pesticidas afirmaram manipulá-los de forma direta ou indireta. Em relação aos desfechos reprodutivos, os mais prevalentes foram alterações no aparelho reprodutivo (31,5%), sendo que o mioma uterino foi o mais relatado (47,1%), cirurgia prévia no sistema reprodutor, exceto cesariana (29,6%), sendo que a mais referida foi histerectomia (65,6%), e por fim irregularidade menstrual (22,2%). Foram observadas altas prevalências, tanto de exposição como dos desfechos reprodutivos avaliados. Destaca-se que as análises feitas neste trabalho são exploratórias e exclusivamente descritivas. As próximas etapas consistem na análise da associação entre a exposição aos agrotóxicos e os desfechos reprodutivos. Cada vez mais evidências sugerem que a exposição prolongada aos agroquímicos pode aumentar o risco de danos à saúde reprodutiva, o que torna o cenário preocupante, em especial em uma população de baixa escolaridade.

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Pesquisa - Campus Passo Fundo