PREVALÊNCIA DO USO DE TELAS E FATORES RELACIONADOS NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE VIDA

Autores

  • Ketlin Angelin Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Jéssica Boufleur
  • Isabel Benevides Frossard
  • Shana Ginar da Silva

Palavras-chave:

Tempo de tela, Saúde materno-infantil, Fatores socioeconômicos

Resumo

O crescimento expressivo do uso de dispositivos eletrônicos nas últimas décadas tem levado à exposição a telas em crianças de idades cada vez mais precoces. Nesse contexto, órgãos de saúde têm emitido recomendações voltadas ao uso equilibrado desses recursos, diante dos potenciais impactos negativos no crescimento e desenvolvimento infantil. A Sociedade Brasileira de Pediatria, assim como a Academia Americana de Pediatria, recomenda a ausência total de exposição às telas em crianças de até 24 meses de idade. O presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência do uso de telas em crianças de até 2 anos e os fatores maternos e familiares relacionados. Trata-se de um estudo transversal, recorte da pesquisa “Saúde da mulher e da criança no ciclo gravídico-puerperal em usuárias do Sistema Único de Saúde”, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Fronteira Sul (parecer nº 6.871.168). Os dados foram coletados entre junho e dezembro de 2024, em cinco Unidades Básicas de Saúde de Passo Fundo, RS, por entrevistas presenciais aplicadas por acadêmicos de Medicina treinados. Foram incluídas usuárias com 12 anos ou mais e filhos de até 24 meses em acompanhamento de puericultura. A exposição a telas foi definida a partir das questões: “a criança assiste televisão?” e “a criança utiliza celular, tablet ou computador?”, sendo consideradas expostas as crianças com resposta positiva a pelo menos uma delas. Como variáveis independentes, avaliaram-se idade materna, cor da pele, estado civil, vínculo empregatício, escolaridade, renda familiar, número de filhos, número de pessoas no domicílio, planejamento da gravidez e idade da criança. Realizou-se estatística descritiva (n,%) e análise da distribuição do desfecho segundo variáveis independentes pelo teste do qui-quadrado, com nível de significância p<0,05. A amostra incluiu 128 mulheres e seus filhos, com idade materna média de 26 anos (±7,2). A maioria se autodeclarou preta, parda ou indígena (53,3%), vivia com companheiro (65%), tinha dois ou mais filhos (57,7%), não exercia atividade remunerada (57,4%) e possuía renda per capita de até um salário mínimo (77,3%). Entre as crianças, a idade média foi de 7,14 meses (±5,31). A prevalência de exposição a telas foi de 61% (IC95% 53–70), com idade média de início de 4,3 meses para televisão e 8,3 meses para dispositivos (celular/tablet/computador). O tempo médio diário de exposição foi de 88,9 minutos, sendo 82,1 minutos à televisão e 68,6 minutos a dispositivos. Houve associação significativa entre idade da criança e exposição (p=0,001), com prevalência crescente de 49,4% nos menores de 6 meses para 94,4% após 1 ano. Também se observou associação com escolaridade materna (p=0,043), sendo a exposição mais frequente entre filhos de mães com ensino fundamental ou médio (60,5% e 65,6%, respectivamente) e menor entre aquelas com ensino superior (31,2%). Não foram encontradas diferenças significativas para as demais variáveis. Os resultados evidenciam que a exposição precoce a telas é frequente em crianças de até 2 anos e está relacionada a fatores maternos, sendo mais comum entre filhos de mães com menor escolaridade. Isso pode refletir a ausência de rede de apoio e o conhecimento limitado sobre os efeitos deletérios das telas, reforçando a necessidade de estratégias de orientação específicas para esse grupo na atenção primária à saúde.

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Ensino - Campus Passo Fundo