URINÁLISE COMO FERRAMENTA DE TRIAGEM EM SHUNT PORTOSSISTÊMICO EM CÃO

Autores

  • Ana Júlia Pereira de Melo UFFS
  • Thainá Simões Giodani
  • Falcão Sodré Black
  • Luciana Pereira Machado
  • Marilene Machado Silva

Palavras-chave:

hepatopatia , cristalúria , patologia clínica veterinária

Resumo

Os cristais de biurato de amônio apresentam-se geralmente de coloração castanha, com aspecto arredondado e projeções espiculadas. Estão frequentemente associados a alterações hepáticas, como insuficiência hepática ou presença de shunt portossistêmico, seja ele congênito ou adquirido. Como resultado, ocorre a redução do fluxo hepático, atrofia e perda funcional permitindo o acúmulo de toxinas na circulação. Este trabalho tem como objetivo relatar as alterações clínicas e laboratoriais observadas em um caso de shunt portossistêmico atendido na Universidade Federal do Paraná, campus Palotina. Em março de 2025, uma cadela de sete anos foi encaminhada com histórico de apetite seletivo há uma semana, alimentando-se apenas de sachê e frango. No dia anterior o animal apresentou dois episódios de êmese e apatia. No atendimento observou-se ascite, havendo a necessidade de drenagem de líquido abdominal. Analisando os  exames laboratoriais em relação aos valores de referência da espécie, evidenciou-se leucocitose 43.200/uL (6.000-18.000/uL), aumento da atividade sérica de alanina aminotransferase (ALT) 146 U/L ( 21–102 U/L), aspartato aminotransferase (AST) 246 U/L ( 23–66 U/L) e fosfatase alcalina (FA) 1.951 U/L ( 20–156 U/L), além de soro com acentuada icterícia e hipoalbuminemia 0,81 g/dL (2,6-3,3 g/dL). A análise do líquido abdominal revelou transudato puro, com proteína total de 0,35 g/dL, albumina de 0,22 g/dL e contagem total de células nucleadas 157/uL. O exame físico do líquido demonstrou coloração amarela, aspecto límpido, densidade de 1,010, na citologia o líquido apresentou baixa celularidade, com predomínio de neutrófilos. A urinálise em amostra obtida de micção espontânea, apresentou grande quantidade de cristais de biurato de amônio, coloração âmbar, aspecto turvo, densidade 1.040, pH 6,0 e proteínúria de 100 mg/dL. A presença de cristais de biurato de amônio está relacionada à redução da capacidade do fígado em converter amônia em ureia, o que leva ao aumento da amônia no sangue (hiperamonemia) e à sua eliminação excessiva pela urina, manifestando-se sob a forma de cristais, como identificado na urinálise descrita. Durante o primeiro dia de internamento, o animal apresentou convulsões, possivelmente causadas pelo quadro de encefalopatia hepática. O quadro clínico, juntamente achados laboratoriais, hipoalbuminemia acentuada, cristais de biurato de amônio, alterações hepáticas importantes e presença de ascite com transudato puro sustentou a suspeita de shunt portossistêmico. O paciente descrito neste relato evoluiu para óbito no dia posterior à internação, em necrópsia foi constatado shunt extra hepático e cirrose. A urinálise, além de evidenciar a presença de cristais de biurato de amônio, destaca-se como um exame de baixo custo e acessível, devendo ser utilizada como ferramenta de triagem em casos de suspeita de alterações renais e também hepáticas.

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências Agrárias - Ensino - Campus Realeza