ABORDAGEM DIAGNÓSTICA E TERAPÊUTICA DA INTOXICAÇÃO POR CARBAMATOS EM CÃO: RELATO DE CASO

Resumo

A abordagem clínica das intoxicações em animais representa um grande desafio na medicina veterinária, uma vez que os sinais clínicos costumam ser inespecíficos e nem sempre permitem confirmação diagnóstica em tempo hábil. A falta de acesso rotineiro a técnicas laboratoriais específicas, como a cromatografia líquida de alta eficiência, e a indisponibilidade de antídotos específicos para cada toxicante, tornam esse processo ainda mais complexo. Dessa forma, na prática clínica, o diagnóstico geralmente é presuntivo e o tratamento é sintomático. O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de intoxicação por carbamatos em cão, cujo diagnóstico rápido e tratamento emergencial foram essenciais para o sucesso terapêutico. Um macho, sem raça definida, foi admitido em uma clínica veterinária de Taió – Santa Catarina apresentando miose, sialorreia intensa, ataxia, fasciculações musculares, tremores, bradicardia e micção e defecação involuntárias. O tutor relatou ter encontrado um pedaço de carne parcialmente consumido próximo ao portão, levantando a suspeita de envenenamento criminoso. Diante da sintomatologia compatível com intoxicação por carbamatos, possivelmente por Aldicarb - popularmente conhecido como “chumbinho” - e considerando a gravidade do quadro, foi instituído tratamento emergencial com fluidoterapia venosa associada à administração de atropina (2 mg/kg). Poucos minutos após a intervenção, observou-se remissão significativa dos sinais clínicos. A intoxicação colinérgica em cães caracteriza-se por evolução rápida para instabilidade cardiorrespiratória, sendo o reconhecimento precoce essencial para o prognóstico. O mecanismo fisiopatológico envolve a inibição da acetilcolinesterase e o consequente acúmulo de acetilcolina nas sinapses, resultando em hiperestimulação de receptores muscarínicos e nicotínicos e nas manifestações clínicas observadas. O Aldicarb, ou “chumbinho” é um rodenticida da classe dos carbamatos altamente tóxico para humanos e animais, cuja comercialização é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, embora seja frequentemente relatado em casos de envenenamento criminoso em cães e gatos. Desse modo, conclui-se que a intervenção imediata foi decisiva para a reversão do quadro clínico, destacando a eficácia de uma abordagem emergencial e reforçando a importância do diagnóstico presuntivo nos casos de suspeita de intoxicação.