DOENÇA NODULAR DA TIREOIDE: DESAFIOS DIAGNÓSTICOS E PERSPECTIVAS DA MEDICINA DE PRECISÃO
Palavras-chave:
Glândula Tireoide, Nódulo da Glândula Tireoide, Citologia, Patologia molecular, Câncer de tireoideResumo
A doença nodular da tireoide (DNT) é uma condição altamente prevalente, encontrada em até dois terços da população quando avaliada por ultrassonografia. Essa prevalência é maior em mulheres e em idosos, sendo influenciada por fatores como deficiência de iodo, histórico familiar e exposição à radiação cervical. Na maioria das vezes, os nódulos são assintomáticos e descobertos de forma incidental em exames de imagem. Estima-se, contudo, que entre 5 e 15% dessas formações correspondam a câncer de tireoide, o que torna essencial o acompanhamento, já que a exclusão diagnóstica dessa condição constitui um desafio clínico central. A respeito disso, o método de escolha para avaliação inicial de lesões suspeitas da tireoide, obedecendo a critérios de análise das imagens (TiRADS), é a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) guiada por ultrassonografia, cuja amostragem citológica analisada é classificada pelo Sistema Bethesda. Entretanto, 20 a 25% das amostras resultam em citologia indeterminada, o que impede uma melhor definição diagnóstica, levando, muitas vezes, os pacientes à indicação cirúrgica com esse objetivo. Esse cenário contribui para um número expressivo de tireoidectomias desnecessárias, uma vez que 60 a 70% dessas lesões são benignas ao exame histopatológico. Nesse sentido, além dos riscos inerentes ao procedimento cirúrgico – como lesão de nervo laríngeo recorrente e hipoparatireoidismo – há ainda influência na qualidade de vida – pela necessidade de reposição hormonal vitalícia – e elevação dos custos para o sistema de saúde. Desse modo, essa condição manifesta impactos significativos tanto no nível individual, em função das complicações e das repercussões psicossociais associadas ao diagnóstico e tratamento, quanto no nível coletivo, pelo ônus econômico decorrente do rastreamento e das intervenções dispensáveis. Os principais desafios atuais concentram-se, portanto, na dificuldade de distinguir nódulos benignos de malignos apenas pela citologia e nas limitações das condutas baseadas em exames inconclusivos. Todavia, nas últimas décadas, os avanços da medicina de precisão têm oferecido novas perspectivas para o manejo dos nódulos com resultados não conclusivos quanto à sua natureza ou potencial de malignidade, especialmente com a introdução de testes moleculares que aumentam a acurácia diagnóstica. Tal metodologia busca não somente avaliar mutações, mas também analisar a expressão de genes envolvidos na tumorigênese tireoidiana. Embora promissora, essa abordagem apresenta limitações importantes, como alto custo e dependência de tecnologias patenteadas. Nesse cenário, ganham destaque iniciativas que buscam desenvolver estratégias moleculares de estratificação de risco em nódulos tireoidianos adaptadas à realidade do Brasil, avaliando sua aplicabilidade, custo-efetividade e viabilidade no Sistema Único de Saúde (SUS). Por sua vez, a integração de dados semiológicos, ultrassonográficos, citológicos e moleculares poderá contribuir para reduzir a necessidade de cirurgias diagnósticas e promover maior qualidade de vida aos pacientes. Dessa forma, a literatura aponta que a DNT, além de prevalente, impõe desafios clínicos e de saúde pública que exigem soluções inovadoras, passíveis de aplicação prática e com custos manejáveis. Assim, a adoção de protocolos adaptados ao contexto brasileiro, bem como a identificação das mutações mais encontradas na população tornam-se essenciais para conciliar esses aspectos, reforçando a importância da pesquisa na transformação do cuidado.
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