POLITRAUMATISMO EM CACHORRO DO MATO (Cerdocyon thous) SUGESTIVO DE ATROPELAMENTO RODOVIÁRIO: RELATO DE CASO
Palavras-chave:
Conservação, Fauna silvestre, Colisão veicularResumo
Um cachorro do mato (Cerdocyon thous), fêmea, foi recebido pelo Serviço de Atendimento a Animais Silvestres (S.A.A.S) após ser recolhido em uma estrada, com suspeita de atropelamento. Durante o atendimento não movimentou os membros pélvicos, sugerindo lesão em coluna vertebral e evoluiu para perda de consciência, sendo encaminhada para exame de raio-x. O exame revelou uma fratura múltipla, completa, fechada, em corpo de vértebra T13. Em decorrência do prognóstico desfavorável, por se tratar de uma fratura não operável, que a impossibilitava de retornar à natureza e se mostrava incompatível com a vida de um animal silvestre, optou-se pela eutanásia. O animal foi submetido à necropsia, na qual, além da fratura em vértebra torácica, observou-se hemoperitônio, lacerações em baço, fígado e rins, assim como enfisema e atelectasia pulmonar. Os achados dos exames evidenciam politraumatismo sugestivo de colisão veicular. Os atropelamentos são uma das principais causas de mortalidade de espécies silvestres, inclusive de espécies ameaçadas de extinção. A fragmentação de habitat causada pela ação antrópica, tal como a construção de estradas próximas a Unidades de Conservação (UCs) representa uma das principais ameaças a esses animais, já que essas áreas são seus refúgios naturais. Nesse caso, os traumas rodoviários podem ocorrer por diferentes motivos. A rodovia pode interferir na faixa de deslocamento natural do animal, enquanto a presença de alimentos atrativos do outro lado da via como frutas, grãos e plantas aumenta o risco de colisões. Assim, animais carnívoros podem ser atraídos para essas áreas. Neste caso, por se tratar de uma fêmea e considerando que o evento ocorreu durante o período reprodutivo na primavera, o atropelamento pode ter sido motivado pela busca de um parceiro. Adicionalmente, fatores antropogênicos, como a imprudência de motoristas e falta de fiscalização rodoviária devem ser considerados. Em casos de colisões automobilísticas, os animais podem não morrer imediatamente, deslocando-se para vegetação ao redor e falecendo posteriormente. Consequentemente, essas situações podem não ser contabilizadas em levantamentos de mortalidade da fauna silvestre, sendo subestimado o impacto dessas ocorrências. Mesmo em situações em que os animais são resgatados, como neste trabalho, a resposta de cada animal pode variar conforme a gravidade e extensão das lesões. O trauma pode desencadear choque hipovolêmico, falência de múltiplos órgãos, resposta inflamatória sistêmica, desequilíbrio ácido-base, distúrbios eletrolíticos e desencadear eventos que comprometem a recuperação, tornando a reabilitação e soltura desses animais um desafio. Por fim, esse estudo contribui para compreender a gravidade dos traumas sofridos e pode ser utilizado como referência na elaboração de protocolos de atendimento a casos semelhantes.
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