HIPERPLASIA ENDOMETRIAL NÃO-CÍSTICA, HEMOMETRA/PIOMETRA E NEOPLASIA MAMÁRIA EM CADELA: RELATO DE CASO
Palavras-chave:
afecções uterinas; cirurgia; infecção; urgência; hormônios.Resumo
A castração eletiva ou terapêutica de fêmeas é frequente na clínica-cirúrgica, sendo que em cadelas não castradas, as afecções uterinas, como o complexo hiperplasia endometrial cística - piometra são muito comuns, e os animais idosos são os mais acometidos. Ocorre principalmente no diestro, por influência de estímulos hormonais sequenciais e ciclos não gestacionais. Este trabalho tem como objetivo relatar a ovariohisterectomia terapêutica em uma cadela de 12 anos, sem raça definida, 4,7 kg com secreção vulvar sanguinolenta abundante, anorexia, vômito e neoplasma mamário. Ao exame físico apresentava pulso filiforme, com os demais parâmetros dentro da normalidade, sendo os achados ultrassonográficos compatíveis com hemometra/piometra, microcálculos renais e alterações hepáticas sugestivas de alteração hemodinâmica ou processo toxêmico inter-relacionado com a afecção uterina. Nos exames hematológicos havia linfopenia, eosinopenia, e níveis de ureia e amilase aumentados. Ao eletrocardiograma, verificou-se apenas ritmo sinusal, sem alterações. Sob anestesia geral, realizou-se acesso pela linha média ventral retroumbilical. Seguiu-se a localização do complexo arteriovenoso ovariano (CAVO) direito e hemostasia bipolar. O mesmo procedimento foi repetido no lado esquerdo, e no corpo do útero, no qual seguiu-se sutura de Cushing com poliglactina 910 3-0, e omentalização. Prosseguiu-se com o fechamento da parede abdominal, redução do espaço morto anatômico com sutura isolada simples, aproximação do subcutâneo com sutura simples contínua modificada, e dermorrafia com sutura intradérmica. Ao exame histopatológico revelou-se hiperplasia endometrial não cística moderada, hemometra e endometrite crônico-ativa difusa moderada a acentuada, além de cistos nos ovários. Após 15 dias, a paciente apresentava-se em normorexia e estabilização do quadro, sendo encaminhada para nova avaliação e possível mastectomia unilateral. Embora a patogênese da piometra seja parcialmente compreendida, admite-se que decorra de uma resposta anormal a desequilíbrios hormonais primários, nos quais às concentrações fisiológicas de estrogênio e progesterona afetam as células uterinas e as tornam mais suscetíveis à aderência e ao crescimento bacteriano, como observado neste caso. O entendimento mais aceito na literatura é que o estrogênio induz a expressão de receptores de progesterona, que por sua vez, estimula a atividade secretora do útero culminando no acúmulo de líquido no lúmen uterino. Sob domínio estrogênico, a cérvix se abre, permitindo a entrada de bactérias, sendo a Escherichia coli o patógeno mais comumente isolado nesses casos. A piometra pode coexistir com hiperplasia endometrial cística das glândulas, ou não cística, como neste caso, mas não necessariamente atuam juntas, e podem ser diagnosticadas independentemente. Geralmente, a afecção é acompanhada de sinais clínicos como perda de apetite, apatia, poliúria e polidipsia e vômitos, alguns observados nesse caso.
Em casos de piometra aberta, como este, a inflamação é significativa, e os cornos uterinos ficam distendidos pelo fluído purulento, o que resulta em secreção vulvar significativa, geralmente sanguinopurulento ou hemorrágico. Trata-se de uma urgência, que requer intervenção cirúrgica após estabilização para prevenir sepse e óbito. O caso reforça a importância da castração precoce na prevenção de afecções uterinas e neoplasias mamárias.
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