RELAÇÃO ENTRE CORREDORES ECOLÓGICOS E AS QUEIMADAS NO BRASIL

Autores

  • Luiz Gustavo Oliveira da Fonseca Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Mariana Santos
  • Tainara Natália dos Santos Mattos
  • Berta Lúcia Pereira Villagra uffs

Palavras-chave:

Mata Atlântica, Incêndios florestais, Habitats.

Resumo

Os corredores ecológicos na Mata Atlântica têm papel central para reduzir a fragmentação e manter fluxos de genes, a dispersão de fauna e a resiliência dos remanescentes frente a estressores como queimadas. Embora a Mata Atlântica abriga entre 300–320 mil km² de vegetação nativa, essa cobertura encontra-se altamente fragmentada: cerca de 28% da vegetação natural persiste na paisagem e ~83% dos fragmentos têm menos de 50 ha — um mosaico que limita deslocamentos e aumenta efeitos de borda e vulnerabilidade a distúrbios. Nesse contexto, a presente revisão analisou artigos publicados nos últimos 10 anos sobre o tema, em busca de entender as reais consequências deste problema. Para isso foram utilizados os termos descritores “Mata Atlântica”, “Incêndios florestais” e "Habitats”, e as bases de dados utilizadas foram o Google Acadêmico e o Pubmed. Somente os estudos envolvendo o caso foram selecionados e os demais excluídos. Após a aplicação dos critérios, apenas quatros artigos foram utilizados. Em cenários de fogo, estudos nacionais indicam que, historicamente, a Mata Atlântica apresenta menor impacto médio de queimadas do que biomas como Cerrado e Pantanal; contudo, o regime de fogo no bioma é mais catastrófico e aleatório, o que dificulta a modelagem de seus determinantes e não elimina riscos locais, especialmente em anos secos e sob pressão antrópica. No Corredor Central da Mata Atlântica (Bahia–Espírito Santo), análises de 2001–2020 mostram recorrência de focos de fogo e associação com condições de seca; projeções climáticas (2021–2040) sugerem redução de chuvas, aumento de temperatura e maior propensão a incêndios em áreas críticas de unidades de conservação — um alerta para o planejamento de conectividade e prevenção. Além disso, pesquisas de campo na Mata Atlântica demonstram que regimes de fogo intensificados degradam a estrutura e a diversidade, favorecendo estados de baixa resiliência e dificultando a regeneração natural, sobretudo em áreas previamente exploradas. A efetividade dos corredores decorre tanto do desenho (largura, continuidade, proteção de matas ciliares) quanto da posição na rede de fragmentos. Em um estudo de conectividade estrutural no setor oriental do Paraguai (porção do bioma), menos de um terço permanecia florestado em 2019; a conectividade foi severamente limitada para mamíferos incapazes de percorrer 9–12 km entre fragmentos — informação útil para dimensionar “fragmentos da mata” e faixas de ligação. No Brasil, evidências recentes mostram que restauração estratégica conectando áreas, consegue reduzir a fragmentação em menos de uma década, com ganhos detectáveis em métricas de paisagem. Em escala ampla, o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica aumentou a cobertura restaurada em 10–20 pontos percentuais nas áreas apoiadas entre 2010–2018, reforçando que políticas e incentivos corretos potencializam a criação/fortalecimento de corredores em terras privadas. Em síntese, a combinação de corredores ecológicos bem posicionados, a restauração ativa em áreas-chave (especialmente ripárias e entre grandes núcleos), e o manejo preventivo do fogo (aceiros, fiscalização e respostas rápidas em anos secos) tende a reduzir a exposição de fragmentos a queimadas e a acelerar a recuperação pós-fogo, fortalecendo a integridade ecológica da Mata Atlântica. 

 

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Publicado

24-10-2025

Edição

Seção

Ciências Biológicas - Pesquisa - Campus Realeza