GRAFITE SONORO: ARTISTAS-ESCUTADORES COMO ESCRITORES DA RUA
Palavras-chave:
Patrimônio cultural, Arte urbana, Escuta ativa, EscrevivênciasResumo
O graffiti, enquanto linguagem artística e expressão cultural urbana, constitui uma das cinco linguagens estruturantes do Hip Hop, ao lado do Disc Jockey (DJ), do Breaking (dança de rua) e do MC (mestre de cerimônias) e Conhecimento. No Brasil, o Decreto No 11.784 de 20 de novembro de 2023, dispõe sobre as diretrizes nacionais para as ações de valorização e fomento da cultura hip-hop no Brasil. No Rio Grande do Sul, a Lei No15.991 d3 29 de Julho de 2022 declara como de relevante interesse cultural estadual a Cultura "Hip-Hop" em todas as suas manifestações. Em Erechim (RS), apesar da instituição da Semana Municipal do Hip Hop pela Lei nº 5.884/2015, a cultura Hip Hop não é formalmente reconhecida como patrimônio imaterial, o que limita sua visibilidade, a consolidação da identidade local e a formulação de políticas públicas que legitimem sua importância histórica e social. Diante dessa lacuna, o presente projeto tem como objetivo propor o grafite sonoro como uma técnica de escrevivência dos territórios urbanos, entendida aqui como forma de tombamento poético. A proposta busca valorizar o graffiti para além de sua dimensão visual, articulando-o com experiências de escuta, de modo a legitimar a dimensão acústica como parte constitutiva do patrimônio cultural e do direito à cidade. O percurso metodológico orienta-se por três eixos: a deriva, a escuta e a escrita. A deriva consiste no deslocamento pela cidade em contato com os murais de grafite, abrindo-se ao inesperado da paisagem sonora. A escuta ativa recolhe vestígios acústicos como grafismos em muros invisíveis. Já a escrita assume a forma de “mixagem de escutas”, integrando registros fotográficos, sonoros, anotações de campo e narrativas dos artistas-escutadores. Os resultados parciais incluem a realização de oficinas de grafite sonoro na cidade, voltadas à formação, divulgação e visibilidade da linguagem, bem como intervenções artísticas em espaços institucionais e públicos, como a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), a Semana do Patrimônio Cultural na Praça Jaime Lago e o evento Arquitetura Agosto, no Centro Cultural 25 de Julho. Além disso, teve início o processo de cartografia sonora da cultura Hip Hop em Erechim, tomando os murais de graffiti como âncoras para passeios sonoros. Conclui-se que o grafite sonoro evidencia o papel dos grafiteiros como verdadeiros “artistas-escutadores” e “escritores da rua”, que inscrevem narrativas visuais e sonoras nos territórios urbanos. Assim, a prática reafirma sua potência estética, poética e política, fortalecendo a identidade local e promovendo novas formas de apropriação cidadã do espaço urbano.
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Copyright (c) 2025 Guilherme Agusto Rossi Garcia, Karina Rocha de Oliveira, Marcela Alvares Maciel

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