INSERÇÃO DE PLATAFORMAS DIGITAIS EM UMA ESCOLA DO PARANÁ: UMA ANÁLISE SOCIOEMOCIONAL DO TRABALHO DOCENTE
Palavras-chave:
Plataformas Digitais, Plataformização , Docente , Pressão , esgotamento psicológicoResumo
Com o aumento da tecnologia, a educação pública passou a adotar sistemas virtuais caracterizados como plataformas digitais, que funcionam no intuito de monitorar, organizar e gerenciar processos educacionais. Tais ferramentas multidisciplinares, que embora apresentem inovação e eficiência, acabam gerando pressões institucionais, falta de suporte e sobrecarga. Considerando esse cenário, o presente estudo analisou, ao longo de 4 semestres, as percepções de 22 professores do Ensino Médio de uma escola pública do sudoeste paranaense, que consistiu em investigar os impactos da plataformização digital. Os dados evidenciaram uma situação ambivalente, na qual alguns docentes apontaram benefícios no uso das ferramentas, como a facilitação no planejamento e organização das aulas. No entanto, houve a predominância de visões negativas, nestas se destacam, a instabilidade técnica, a falta de formação dos docentes para utilizar as plataformas e insatisfação com a experiência digital. Além disso, a falta de suporte institucional aos usuários das plataformas digitais acabam não cumprindo seu papel pedagógico e passam a gerar sobrecarga e frustração. Mesmo diante de benefícios potenciais, a precariedade estrutural e a ausência de formação específica fragilizam a apropriação crítica das plataformas. Essa fragilidade soma-se às cobranças externas e às metas impostas, provocando insegurança e desgaste emocional entre os docentes. Um relato anônimo de um professor fora da amostra ilustra de forma contundente essas pressões: “O estágio probatório está sendo cruel, exaustivo e constrangedor, onde tudo precisa parecer perfeito para não receber avaliação baixa. As metas impossíveis aumentam todos os dias, com cobranças de cima para baixo, e qualquer falha precisa ser justificada... A SEED não tem respeito pelos profissionais; o que interessa é lucro e propaganda política”. Esse testemunho evidencia que os achados que não se limitam a casos isolados, mas refletem vivências recorrentes na categoria docente. Situações noticiadas pela APP-Sindicato corroboram esse diagnóstico. Em 2024, por exemplo, um professor hospitalizado foi obrigado a realizar curso online mesmo com atestado médico. Outros episódios, como o da professora Silvaneide Monteiro Andrade em uma escola cívico-militar, reforçam a dimensão das pressões e cobranças impostas pelo modelo de monitoramento docente. Esses casos mostram que o uso das plataformas digitais, quando desvinculado de suporte institucional e de formação adequada, tende a intensificar o estresse profissional e a fragilizar ainda mais as condições de trabalho dos professores. Do ponto de vista socioemocional, destaca-se que emoções negativas persistentes, como medo, frustração e exaustão comprometem atenção, memória e aprendizagem, reduzindo a eficácia do processo educativo. Nesse cenário, a política de plataformização mostra-se triplamente falha restringe o potencial pedagógico das tecnologias, adoece os profissionais responsáveis por mediá-las, e limita a liberdade docente, ao interferir diretamente em sua prática. Dessa forma, é necessário repensar as políticas de uso das plataformas digitais no ensino público paranaense. Longe de instrumentos neutros de modernização, elas têm servido como mecanismos de vigilância e controle, e seu uso sem suporte pedagógico, formação continuada e infraestrutura adequada sobrecarrega os docentes e dificulta a prática pedagógica.
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