PREVALÊNCIA DE DISLIPIDEMIA EM INDÍGENAS ATENDIDOS EM UM AMBULATÓRIO DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE NO SUL DO BRASIL
Palavras-chave:
Dislipidemia; Indígena; ComportamentoResumo
A dislipidemia, caracterizada por alterações nos níveis de lipídios séricos, representa um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e está, frequentemente, associada a condições crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão arterial. A prevalência dessa condição pode variar conforme fatores sociodemográficos, de saúde e de comportamento, refletindo desigualdades sociais e perfis específicos de risco. Entre populações indígenas, tais fatores adquirem relevância particular, uma vez que mudanças no estilo de vida, no padrão alimentar e no acesso aos serviços de saúde, influenciam diretamente a ocorrência dessa doença. O presente estudo teve como objetivo estimar a prevalência desse agravo em indígenas atendidos em ambulatório especializado, relacionando a dislipidemia com fatores sociodemográficos, de saúde e de comportamento. Trata-se de um estudo transversal, realizado mediante aprovação ética (parecer de número 5.918.524). Os dados foram coletados de prontuários eletrônicos do ambulatório da Universidade Federal da Fronteira Sul/Hospital São Vicente de Paulo de Passo Fundo/RS, e referem-se a atendimentos realizados de agosto de 2021 (início dos atendimentos) a setembro de 2022 a indígenas adultos e idosos (idade igual ou superior a 20 anos). As variáveis independentes analisadas foram sexo, faixa etária, condições de moradia, escolaridade, situação conjugal, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, tabagismo, consumo de bebida alcoólica e prática de atividade física. Os dados foram analisados no software PSPP (distribuição livre), sendo verificadas as frequências absolutas e relativas das variáveis independentes, bem como a estimativa da prevalência do desfecho (registro em prontuário de diagnóstico de dislipidemia) com intervalo de confiança de 95% (IC95) e avaliação de sua distribuição frente às variáveis de exposição (teste de qui-quadrado de Pearson ou teste exato de Fisher). A amostra (n=570) foi composta majoritariamente por indivíduos do sexo feminino (59,3%), na faixa etária entre 50 e 59 anos (86,6%), morando em aldeamento (69,3%), com ensino fundamental (62,6%) e com cônjuge (55,4%). Grande parte apresentava doenças cardiovasculares (27,4%), diabetes (11,7%), era tabagista (26,6%), consumia bebida alcoólica (21,6%) e não praticava atividade física (92,5%). A prevalência da dislipidemia foi de 5% (IC95 3-7), sendo mais elevada naqueles com idade ≥60 anos (19,4%, p<0,001), não alfabetizado (15,4%, p<0,017), com doença cardiovascular (12,8%, p<0,001) e diabetes (16,9%, p<0,001) e que consumiam bebida alcoólica (10,8%, p<0,008). Os resultados apontam que a dislipidemia é uma comorbidade prevalente na população indígena, apresentando relação direta com idade avançada, alfabetização, doença cardiovascular, diabetes e consumo de bebida alcoólica, o que vai ao encontro da literatura. Entre populações indígenas, tais fatores adquirem relevância particular, uma vez que mudanças no estilo de vida, no padrão alimentar e no acesso aos serviços de saúde influenciam diretamente a ocorrência dessa comorbidade. Assim, investigar a prevalência desse agravo em indígenas atendidos em ambulatório especializado contribui para compreender vulnerabilidades e direcionar estratégias de promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas nesse grupo populacional.
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