O GESTOR ESCOLAR E AS RELAÇÕES CONTRADITÓRIAS DA DOCÊNCIA E DA GERÊNCIA DA ESCOLA
Palavras-chave:
gestão democrática; gestor escolar; educação pública; lógica gerencial; projeto político-pedagógicoResumo
Este estudo buscou analisar as práticas de gestão escolar, nas dimensões pedagógica e administrativa, à luz da perspectiva de gestão democrática, identificando situações em que o gestor atua de modo mais próximo aos fazeres da docência ou na gerência da escola, fundamentado nos estudos e pesquisas de Vitor Paro. Ser gestor escolar implica em uma tarefa complexa e multifacetada. O gestor está em uma posição contraditória em que ele é visto, ora como educador, ora como gerente. A pesquisa é de natureza qualitativa, com abordagem bibliográfica. A escola tem reproduzido a lógica capitalista e os conceitos de eficiência e produtividades permeiam a função do gestor escolar. Os estudos demonstram que, ainda que a escola e a empresa devam ter objetivos muito distintos, práticas empresariais de gestão estão inseridas nas instituições de ensino. O processo de aprendizagem é a atividade fim da escola e o gestor escolar, mesmo tendo consciência do seu papel pedagógico nesse processo, é levado a assumir uma postura de gerente frente às demandas do seu trabalho. Muitos gestores chegam a essa função com o propósito de melhorar práticas e colaborar no trabalho pedagógico, mas se deparam com demandas administrativas urgentes. Ainda que os trabalhos administrativo e pedagógico da escola devessem ter a mesma finalidade, há uma distância entre eles. A posição ambígua ocupada pelo gestor, sendo ora percebido como educador, ora como gerente, revela uma contradição entre os ideais democráticos expressos nos documentos legais e a realidade vivenciada nas instituições de ensino. O gestor prioriza atenção para as situações administrativas, por serem estas de resultado e consequências imediatas. Existe uma sobrecarga de tarefas e funções que são delegadas ao gestor escolar em razão da estrutura organizacional e da ausência de equipes de apoio pedagógico e administrativo, sendo que em muitas escolas não há equipe de apoio pedagógico e administrativo, como orientadores, coordenadores, secretários e outros. Sem uma equipe que colabore na gestão, não existe diálogo e construção conjunta de estratégias para as situações diversas que ocorrem no ambiente escolar. A sobrecarga de funções contribui para a adoção de práticas gerencialistas, alinhadas à lógica produtivista, em detrimento da construção coletiva e participativa do Projeto Político Pedagógico, este que é o documento norteador da escola e deveria ser construído coletivamente, dando voz a todos os participantes do processo. O trabalho de constante repensar esse documento, assim como a articulação com as instâncias colegiadas, como os Conselhos Escolares, torna-se secundária, comprometendo a participação e, logicamente, os princípios da gestão democrática. Os resultados demonstram que a prática do gestor é permeada de contradições estruturais, que o leva a atuar, muitas vezes reproduzindo modelos empresariais de gestão, mesmo quando consciente de seu papel pedagógico. Essa prática, nem sempre é opção do gestor, mas é resultado da forma como as instituições têm sido organizadas, reforçando a lógica na qual está inserido, portanto, se volta para a produtividade em detrimento da humanização das relações escolares.
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