A MODINHA COMO SÍMBOLO DE IDENTIDADE CULTURAL NO ROMANCE O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA
Palavras-chave:
Modinha; Identidade cultural brasileira; Lima Barreto;Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar o gênero musical brasileiro Modinha, explorando seu significado artístico e cultural e sua trajetória histórica por meio do romance O Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, de 1915. No romance, o personagem Major Quaresma encarna um intenso nacionalismo, valorizando elementos genuinamente brasileiros - língua, flora, fauna, culinária e, notadamente, a modinha. A narrativa também apresenta Ricardo Coração dos Outros, músico e violonista popular, cujo repertório mescla lirismo, simplicidade e profundidade emocional. A figura de Ricardo representa a continuidade de uma tradição musical que Quaresma percebe como um símbolo da identidade cultural brasileira. Para tanto, analisa-se trechos do romance em que as discussões sobre a modinha acontecem com estudos históricos sobre esse gênero musical. Historicamente, a modinha surgiu em Portugal em meados do século XVIII, influenciada pelo estilo lírico da ópera italiana e francesa, antes de ser trazida para o Brasil. Em sua jornada transatlântica, fundiu-se com elementos musicais locais, adquirindo características únicas. Inicialmente florescente nos salões da nobreza europeia durante os séculos XVIII e XIX, era marcada por melodias suaves e versos sentimentais acompanhados por violão ou viola. No século XIX, a modinha havia se tornado parte do repertório urbano e, no início do século XX, foi adotada por músicos eruditos e populares, incluindo Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga. No universo ficcional de Lima Barreto, a modinha e o personagem Ricardo Coração dos Outros têm peso simbólico, representando o elo entre a tradição popular e um autêntico ideal nacionalista, em oposição às influências culturais estrangeiras. A presença itinerante de Ricardo em vários espaços sociais ilustra a persistência do gênero na vida cotidiana. Esse trabalho, portanto, busca contribuir coma as discussões sobre a origem, ascensão e permanência da modinha na cultura brasileira. Com o tempo, a modinha perdeu destaque para outros estilos musicais, como o samba e as canções populares urbanas transmitidas pelo rádio. No entanto, ela nunca desapareceu totalmente e continua a ser lembrada e executada em contextos de preservação cultural, pesquisa musicológica e por artistas comprometidos com a valorização do repertório histórico brasileiro. Assim, conclui-se que, tanto na realidade histórica quanto na ficção de Barreto, a modinha é um símbolo de uma sensibilidade musical moldada pela fusão de influências europeias e brasileiras. Ela expressa emoções universais por meio de um sotaque melódico distintamente enraizado na identidade brasileira, oferecendo uma visão da continuidade e da transformação cultural da nação.
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