A Tipologia das Casas ao Longo dos Anos nos Assentamentos Ireno Alves e Marcos Freire
Palavras-chave:
rural, assentamentos, relações de gênero, reforma agrária, campesinatoResumo
O presente trabalho explora as relações entre arquitetura, gênero e sociedade, focando na arquitetura rural dos assentamentos Ireno Alves dos Santos e Marcos Freire. O objetivo central é analisar a evolução das tipologias arquitetônicas nesses locais e como essas mudanças refletem nas transformações sociais, econômicas, culturais e de gênero ao longo dos anos. A pesquisa se baseia em uma análise histórica das construções, que são categorizadas em três fases principais: o barraco, a casa velha e a casa nova. Sendo o “barraco” a fase inicial das habitações, construído na fase do acampamento, comumente feitos com madeira e lona preta, sendo caracterizado por sua fragilidade, contendo normalmente apenas um cômodo usado como dormitório e área de convivência, sendo a cozinha do lado de fora da casa utilizada de modo comunitário com as demais famílias da comunidade. A “casa velha” ocorre já na fase do assentamento, sendo uma casa normalmente de madeira, com cômodos separados para dormitórios e convivência, a cozinha passa a fazer parte da casa deixando de ser comunitária e passa a ser individual, sendo essa possivelmente a alteração que mais afeta a questão de gênero. Por fim, a “casa nova” costuma ser de alvenaria, com cômodos mais amplos, refletindo mais a arquitetura urbana, com isso as casas perdem seus traços culturais locais e deixam de ser produzidas com matéria prima local. Cada uma dessas fases reflete diferentes momentos históricos e mudanças nas relações sociais, destacando a importância da arquitetura como um indicador de transformações econômicas e nas relações de gênero dento dessas residências. O contexto histórico dos assentamentos, originados do acampamento "Buraco", situado na antiga Fazenda Pinhal Ralo, no Paraná, também é relevante para a análise. A região, é marcada por conflitos sociais e econômicos, foi palco de uma luta pela reforma agrária que resultou na criação dos assentamentos, abrigando 1.538 famílias em uma área total de 26.947 hectares. A exploração da madeira da região por parte das madeireiras, justifica a necessidade das alterações na legislação que proíbem o corte de madeiras como a Araucária e a Imbúia, espécies que costumavam ser utilizadas como matéria prima para habitações até então. A pesquisa discute ainda a conceptualização da arquitetura rural e popular da região, que se destaca pela influência europeia nas construções durante o período colonial, e que invisibilisa as arquitetura dos povos originários locais, e suas práticas construtivas. A análise parte de uma visão metodológica interdisciplinar, utilizando elementos da arquitetura, antropologia e ciências sociais. A pesquisa parte da análise de imagens do acervo pessoal dos interlocutores, visando mapear as transformações nas construções rurais e entender como essas mudanças influenciaram as interações sociais e de gênero nos assentamentos. Além disso, a pesquisa investiga as principais dificuldades enfrentadas pelos moradores na manutenção e melhoria das construções e como a arquitetura está relacionada à identidade cultural dos assentados, contribuindo para o debate sobre a arquitetura no contexto rural campesino e a luta pela reforma agrária no Brasil.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Editorial do XIII SEPE e concordo que os direitos autorais, a ele referente, se torne propriedade do Anais do XIII SEPE da UFFS.