ESCREVIVÊNCIAS PÓS-COLONIAIS, TRAUMAS IBERO-AMEFRICANOS
AS MEMÓRIAS DE CONCEIÇÃO EVARISTO E ISABELA FIGUEIREDO
Palavras-chave:
colonialidade, Ibero-Améfrica, literatura, testemunho, traumaResumo
Esta investigação, resultado de Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de História da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, problematiza os efeitos da colonialidade no presente emaranhado de Brasil, Moçambique e Portugal. Assim, analisa as experiências de contestação, por meio da literatura testemunhal, às atualizações das violências de um persistente passado traumático no espaço da Ibero-Améfrica, as quais se manifestaram tanto nas ações autoritárias da ditadura civil-militar brasileira como mediante o funcionamento do Estado Novo português no ultramar africano. Nesse sentido, a pesquisa examina enquanto fontes documentais as escrevivências e fabulações críticas em Becos da memória, de Conceição Evaristo, e no Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, pensadas na chave de instrumentos para a elaboração do trauma e a produção de memórias insurgentes e perturbadoras – considerando os anseios das autoras por acordar os dominadores dos seus sonos injustos e trair a barbárie colonial a partir da recusa ao esquecimento do terror imposto por ambas as ditaduras. Diante disso, o estudo debate o recurso ao testemunho em prol da fabricação de um arquivo atento ao rechaço da negligência às vidas das pessoas que resistiram à catástrofe, ainda que tenham sido vencidas, bem como discute a chance do uso de uma concepção temporal topográfica em prol da construção de cartografia que busca mapear o passado desde o agora, com vistas à rejeição da ideia de uma inexistente harmonia racial nos trópicos e, logo, no intuito de tratar e redimir a dor, que nunca cessou, causada pelo esquema de subalternização atuante dos dois lados do Atlântico ao Índico. Uma vez que as autoras, desde pontos de vista diferentes, localizados e parciais, se aproveitam de suas trajetórias pessoais e familiares para sacudir essas cicatrizes insistentes e apresentar, no âmbito público, discursos que subvertem os desejos do poder pelo silêncio, é possível perceber os propósitos éticos e políticos de seus textos na história do tempo presente e que, com isso, as aproximam de uma virada testemunhal no saber histórico, a qual conecta as vítimas do colonialismo para a oposição a eventos que intentam reeditar as suas dores, como são os casos do desfavelamento e da brutal exploração sexual e trabalhista negra, aludidos nos documentos lidos. Dessa forma, com base em referenciais associados ao pensamento pós-colonial, o trabalho compreende que as obras denunciam tempo mais amplo de horror acoplado a condutas patriarcais e racistas e, portanto, anunciam projeto incompleto que aponta a urgência de se colocar o dedo na ferida colonial e escovar a história ibero-amefricana a contrapelo.
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