ESCREVIVÊNCIAS PÓS-COLONIAIS, TRAUMAS IBERO-AMEFRICANOS

AS MEMÓRIAS DE CONCEIÇÃO EVARISTO E ISABELA FIGUEIREDO

Autores

  • Guilherme José Schons Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) https://orcid.org/0000-0002-9498-4164
  • Fábio Francisco Feltrin de Souza Universidade Federal do Paraná (UFPR)
  • Allan K. da Silva Pereira Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Palavras-chave:

colonialidade, Ibero-Améfrica, literatura, testemunho, trauma

Resumo

Esta investigação, resultado de Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de História da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, problematiza os efeitos da colonialidade no presente emaranhado de Brasil, Moçambique e Portugal. Assim, analisa as experiências de contestação, por meio da literatura testemunhal, às atualizações das violências de um persistente passado traumático no espaço da Ibero-Améfrica, as quais se manifestaram tanto nas ações autoritárias da ditadura civil-militar brasileira como mediante o funcionamento do Estado Novo português no ultramar africano. Nesse sentido, a pesquisa examina enquanto fontes documentais as escrevivências e fabulações críticas em Becos da memória, de Conceição Evaristo, e no Caderno de memórias coloniais, de Isabela Figueiredo, pensadas na chave de instrumentos para a elaboração do trauma e a produção de memórias insurgentes e perturbadoras – considerando os anseios das autoras por acordar os dominadores dos seus sonos injustos e trair a barbárie colonial a partir da recusa ao esquecimento do terror imposto por ambas as ditaduras. Diante disso, o estudo debate o recurso ao testemunho em prol da fabricação de um arquivo atento ao rechaço da negligência às vidas das pessoas que resistiram à catástrofe, ainda que tenham sido vencidas, bem como discute a chance do uso de uma concepção temporal topográfica em prol da construção de cartografia que busca mapear o passado desde o agora, com vistas à rejeição da ideia de uma inexistente harmonia racial nos trópicos e, logo, no intuito de tratar e redimir a dor, que nunca cessou, causada pelo esquema de subalternização atuante dos dois lados do Atlântico ao Índico. Uma vez que as autoras, desde pontos de vista diferentes, localizados e parciais, se aproveitam de suas trajetórias pessoais e familiares para sacudir essas cicatrizes insistentes e apresentar, no âmbito público, discursos que subvertem os desejos do poder pelo silêncio, é possível perceber os propósitos éticos e políticos de seus textos na história do tempo presente e que, com isso, as aproximam de uma virada testemunhal no saber histórico, a qual conecta as vítimas do colonialismo para a oposição a eventos que intentam reeditar as suas dores, como são os casos do desfavelamento e da brutal exploração sexual e trabalhista negra, aludidos nos documentos lidos. Dessa forma, com base em referenciais associados ao pensamento pós-colonial, o trabalho compreende que as obras denunciam tempo mais amplo de horror acoplado a condutas patriarcais e racistas e, portanto, anunciam projeto incompleto que aponta a urgência de se colocar o dedo na ferida colonial e escovar a história ibero-amefricana a contrapelo.

Biografia do Autor

  • Guilherme José Schons, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

    Mestrando no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Erechim, com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Graduado em História pela UFFS. Integra, na condição de membro fundador, o Laboratório de História Pública da UFFS (LAHIPU). Faz parte da equipe do projeto de extensão Anjo da História: plataforma digital de divulgação e debate histórico, iniciativa de História Pública com inspiração benjaminiana. É colunista do site História da Ditadura. Atua no Centro de Documentação e Laboratório de História Oral (CDLHO) da UFFS, com envolvimento no Grupo de Pesquisa Práticas de Conservação em Documentos Históricos na Colônia Erechim e nas atividades de digitalização e catalogação de acervos judiciais. Desenvolve o projeto de pesquisa Guerra e paz nos livros didáticos de História: a proposta "por uma Compreensão Internacional" da UNESCO, no âmbito do Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PRO-ICT) da UFFS. Compõe o Grupo de Pesquisa Sítios de memória e consciência: passados traumáticos, esfera pública e democracia, associado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Erechim e à Rede Brasileira de Pesquisadores de Sítios de Memória e Consciência (REBRAPESC). Cursa, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as disciplinas História Global e Estudos de Gênero, no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH/UFSC), e Tópicos Especiais em Estética e Filosofia da Arte, no Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil/UFSC). Esteve bolsista (2021-2024) do Programa de Educação Tutorial/Conexões de Saberes - Práxis (PET/FNDE), grupo com foco na educação popular de matriz freireana. Foi investigador (2021-2023) do projeto de pesquisa Mediação e Didática: um estudo genealógico e cartográfico da produção acadêmica da Educação de Pessoas Jovens e Adultas no Brasil (PRO-ICT/UFFS), bem como bolsista (2020-2021) e voluntário (2021-2022) do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES) e voluntário (2022-2024) no Programa de Residência Pedagógica (PRP/CAPES). Cursou, na UFFS, as disciplinas Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos, no Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação (PPGPE), e Urbanização, economia política da cidade e desigualdades socioespaciais, do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGeo). Participa, enquanto representante discente, de diversos órgãos colegiados da UFFS. Tem experiência em pesquisas relacionadas à história de Erechim e à ditadura civil-militar na região Alto Uruguai. Se interessa pelos seguintes temas: ditadura civil-militar brasileira, Estado Novo português em Moçambique, colonialismo de Portugal, trauma colonial, literatura testemunhal e estudos pós-coloniais e decoloniais, os quais foram foco do seu trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado: Memórias de duas ditaduras ibero-amefricanas: Brasil, Moçambique e Portugal nas escrevivências pós-coloniais de Conceição Evaristo e Isabela Figueiredo.

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Publicado

30-09-2024

Edição

Seção

Ciências Humanas - Pesquisa (TCC) - Campus Erechim