Diversidade, Cultura e Saberes na Lenda do Negrinho do Pastoreio
Palavras-chave:
Diversidade, Tradição Gaúcha, Lendas, Negrinho do PastoreioResumo
Este estudo tem como tema a lenda Negrinho do Pastoreio, introduzida na cultura gaúcha do século XIX, com delimitação temática no estudo literário nas invernadas de Centros de Tradições Gaúchas, como arte campeira. Assim, pode-se questionar em que medida são perceptíveis os reflexos dessa cultura no meio social? Pressupõe-se que esse mito continua a carregar grande influência na arte tradicional, podendo ser observado na recorrência às narrativas decorrentes, especificamente nos pampas gaúchos. Entende-se, que a criação da história acontece em função do contexto escravagista e do sofrimento dos escravos, com os maus tratos dos fazendeiros gaúchos da época, trazendo grandes aspectos da cultura africana e da religião cristã. O objetivo geral do trabalho, portanto, é analisar pressupostos teóricos desse campo do saber, no intuito de identificar o processo de modificação pelo qual passa a lenda do Negrinho do Pastoreio e compreender as transformações do gênero lenda no cotidiano. Além disso, propõe-se a retratar a história sobre a escravidão no Rio Grande do Sul e como esse mito se forma e se mantém até hoje ancorado na literatura e na história. Também, buscam-se as razões que levam esse povo, nascido no Sul, a manter vivas, por meio de manifestações e exposições, a lenda no seu cotidiano. Ressalta-se que a lenda propicia a reflexão sobre a violência com a qual os escravizados são tratados e como essa narrativa extrapola as fronteiras do RS e do Brasil, sendo contada nos pampas da Argentina e do Uruguai. Com isso, justifica-se a função temática, pois a lenda torna-se um conforto aos indivíduos dessa sociedade nos momentos em que buscam por ajuda mítica do Negrinho do Pastoreio para encontrar algo perdido, seja material ou espiritual. A geração de dados da investigação acontece por meio de fundamentos teóricos sobre a cultura gaúcha, em cotejo com os saberes partilhados acerca da lenda. Com efeito, a pesquisa é teórica, com natureza qualitativa e fins explicativos. O método de análise e de interpretação das informações é hipotético-dedutivo, com procedimentos técnicos de caráter histórico e comparativo. A lenda Negrinho do Pastoreio é socializada a partir do período escravo no Brasil e do espaço cronotrópico do Rio Grande do Sul. É possível inferir, no tempo histórico, sobre crenças, como a do menino escravo que recebe o milagre da Nossa Senhora por ser inocente, bem como sobre o poder descomunal que os senhores de escravos têm sobre o povo afrodescente. É importante destacar a origem da lenda, sua ligação com a cultura africana e a religião católica, no tempo histórico da narrativa. Os elementos trazem indícios da violência no período de escravidão, forte religiosidade popular e a importância da pecuária na sociedade gaúcha do século XIX. É constatada também a persistência dessa lenda na contemporaneidade, com crenças e práticas culturais, como acender velas nas proximidades de formigueiros, para buscar a ajuda do Negrinho do Pastoreio na procura por objetos perdidos. Nesse sentido, um candeeiro com suas chamas acesas perpetua sua narrativa mediando reflexões, com seus pilares em forma de resistência cultural e, ao mesmo tempo, no contexto da fé ou da crença, tornando-se o berço de conforto e da esperança para aqueles que buscam auxílio em momentos de dificuldades. A contribuição deste estudo está, por
meio da reflexão, no (re)conhecimento das transformações da lenda ao longo do tempo e do entendimento da rica e complexa trama cultural do Rio Grande do Sul, para legitimar e difundir a tradição gaúcha.
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