ESCREVIVÊNCIA

SUBSTANTIVO FEMININO

Autores

  • Fabiula Capeletto Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Fernanda Schons Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) https://orcid.org/0000-0003-2638-6514
  • Silvia Remos Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Marcela Alvares Maciel Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
  • Ivone Maria Mendes Silva Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Palavras-chave:

feminismo, língua, machismo, neologismos, resistência

Resumo

Este trabalho integra uma série de pesquisas desenvolvidas no âmbito da disciplina Seminários Avançados: Escrita e Subjetivação do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH/UFFS) – Campus Erechim, no decorrer da segunda metade de 2023. Com o objetivo de pautar e problematizar aspectos relacionados à imposição da língua, historicamente associados a mecanismos de opressão e dominação, como também identificar e analisar processos de apropriação e atribuição de sentidos e significados a termos, palavras e/ou expressões que, genuinamente, remetem à língua do opressor, buscou-se colocar em evidência novas camadas de acepções e, desse modo, materializar formas de transgressão e libertação a partir do entendimento de língua como um elemento político e cultural que, como tal, se situa  no cruzamento de complexas relações de poder e saber, impregnada de subjetividades e indissociável da constituição de identidades individuais e representações coletivas. A pesquisa, qualitativa quanto à abordagem e exploratória em relação aos objetivos, desenvolveu-se, inicialmente, ancorada à investigação bibliográfica no que refere às relações entre o feminismo e o devir-construção no feminino da escrita como experiência estético-política e sua potencialidade heterotópica. Para tanto, tomou-se o conceito de escrevivência, à luz de Conceição Evaristo, como uma escrita coletiva que reverbere a história de resistência e de sucessivas lutas pela conquista dos direitos das mulheres. Na sequência, a partir da proposição de uma oficina de práticas escriturais da qual participaram 13 (treze) mulheres dentre 15 (quinze) matriculadas/os na referida disciplina, foram produzidas escrevivências feministas em um contexto de dialogicidade e escuta atenta e sensível, em que os neologismos bropriating, mansplaining, manterrupting e manspreading foram examinados, discutidos e, em uma dinâmica de (res)significação, apropriação e representação, foram (re)elaborados conceitos e definições para esses vocábulos. Muito além de uma tradução idiomática (Inglês/Português), procurou-se exprimir emoções e sensações. Pensamentos e sentimentos que transcendem o léxico e, no limite, semanticamente, manifestam as percepções das mulheres participantes da pesquisa sobre si mesmas e seu modo de ser e de estar no mundo. Verbalizar acerca das violências que ferem sua existência, transgredir e subverter a misoginia, o patriarcado e o machismo sobre os quais se assentam a desigualdade de gênero e o feminicídio são ações que, de modo coletivo, fortalecem a incessante luta pela manutenção e pela conquista dos direitos das mulheres. Este trabalho viabilizou inferir que a língua é, sobretudo, um símbolo de poder e, nesse sentido, permeia a luta feminista. Escrevivência, não à toa, é substantivo feminino. Isso porque escreviver é um ato político em que se rejeita o silêncio e se assume uma postura crítica e denunciante das injustiças e, ao mesmo tempo, esperançosa no porvir.

Downloads

Publicado

07-10-2024

Edição

Seção

Ciências Humanas - Pesquisa - Campus Erechim