OS MERCADOS ACESSADOS POR AGRICULTORES(AS) FAMILIARES DA REFORMA AGRÁRIA NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL

DINÂMICAS E ESTRATÉGIAS DE RESILIÊNCIA NO CONTEXTO DO BIOMA DA MATA ATLÂNTICA

Autores

  • Ulisses Pereira de Mello UFFS
  • Marlon dos Santos Vargas
  • Marciano Tuchtenhagen da Fonseca
  • Josinete Alves Fonseca
  • Tanice Andreatta
  • Simone Bueno Câmara
  • Sérgio Schneider
  • Zenicléia Angelita Deggerone

Palavras-chave:

Canais de comercialização; Estratégias de comercialização; Assentamentos rurais; Agricultura familiar; Sistemas alimentares.

Resumo

Os sistemas agroalimentares estão no centro das discussões sobre sustentabilidade e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Compreender como os agricultores produzem e comercializam seus produtos pode trazer contribuições importantes para essa temática, especialmente no contexto do Bioma da Mata Atlântica, que abrange grande parte do Norte do Estado do Rio Grande do Sul. Este bioma, reconhecido por sua alta biodiversidade e importância ecológica, influencia diretamente as práticas agrícolas e as estratégias de comercialização dos assentados. Neste estudo, analisou-se a inserção nos mercados utilizados por agricultores(as) familiares de reforma agrária em assentamentos situados no Norte do Estado. Foram aplicados questionários a 116 agricultores de quatro assentamentos, nos municípios de Joia, Palmeira das Missões e Pontão, entre novembro de 2022 e julho de 2023. O roteiro incluiu questões sobre as características dos agricultores e suas famílias, a exploração agrícola, produtos, canais e estratégias de comercialização. Os responsáveis pelos estabelecimentos são majoritariamente do sexo masculino, com ensino fundamental incompleto e mais de 45 anos. O tamanho médio das propriedades é de 14 hectares. Os principais canais de comercialização utilizados são cooperativas agroindustriais, prevalentes entre os agricultores que comercializam soja, e empresas privadas, mais comuns para os que vendem leite "in natura". A inserção nos mercados ocorre predominantemente através de mercados convencionais, com a produção de grãos (soja) e leite sendo os produtos de maior importância. Os resultados da pesquisa, realizada nestes quatro assentamentos do Rio Grande do Sul oferecem insights sobre o perfil dos agricultores e das unidades produtivas bem como estratégias de comercialização para a inserção nos mercados. Acesso à informação, infraestrutura e logística, governança e formação de preços são aspectos fundamentais que influenciam as dinâmicas de comercialização e as estratégias adotadas pelos agricultores para acessar os mercados. Ao utilizar majoritariamente canais de comercialização exclusivos os agricultores de assentamentos compreendidos nesta pesquisa têm pouca ou nenhuma margem de escolha, limitando assim a sua capacidade de tomar decisões de comercialização mais eficientes. É importante destacar que à medida que os agricultores, majoritariamente não possuem um contrato de comercialização (91,38%), que os preços dos produtos comercializados são definidos pelo comprador (77,59%) e estão imersos em mercados convencionais, eles estão frequentemente expostos a riscos de preços e de mercado. Esses resultados revelam uma profunda assimetria desses mercados, que funcionam longe da tal “perfeição alocativa” da qual trata a economia neoclássica. Essas imperfeições podem resultar em consequências adversas, como preços distorcidos, alocação ineficiente de recursos e exclusão dos agricultores familiares do acesso aos mercados. Nessa situação, reitera-se a importância de políticas públicas e intervenções governamentais para corrigir essas imperfeições e promover o desenvolvimento rural sustentável. A configuração desses mercados reflete não apenas as tendências produtivas regionais, mas também as distâncias geográficas, condições das estradas e a baixa dinâmica dos centros de consumo.

 

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Publicado

01-10-2024

Edição

Seção

Ciências Humanas - Ensino - Campus Erechim