A EXPERIÊNCIA DA AUTOLESÃO NÃO SUICIDA EM ADOLESCENTES FREQUENTADORES DE UM CAPS, À LUZ DA SOCIOLOGIA DE MICHEL MAFFESOLI

Autores

  • Roberta Sousa da Silva UFFS
  • Thaisa Natalia Lopes Hospital Regional do Oeste
  • Rosane Gonçalves Nitschke UFSC
  • Adriana Dutra Tholl UFSC
  • Anderson Funai UFFS
  • Danielle Boing Bernardes Silva UFSC
  • Marcela Martins Furlan de Leo UFFS

Palavras-chave:

Saúde do adolescente. Saúde Mental. Enfermagem. Autolesão Não Suicida. Atividades cotidianas.

Resumo

A Autolesão Não Suicida (ALNS) consiste em provocar lesões no próprio corpo, sem intenção consciente de suicídio, problema de saúde pública global que vulnerabiliza a adolescência, intensificado pela pandemia por COVID-19. O estudo objetivou compreender a experiência da Autolesão Não Suicida no quotidiano de adolescentes que frequentam um CAPSi, à luz da Sociologia de Michel Maffesoli. Trata-se de um estudo qualitativo, interpretativo, fundamentado por pressupostos da Sociologia Compreensiva e Quotidiano, de Michel Maffesoli, que sustentaram tecnologias sociais de investigação, aprovado por CEP da UFFS. Os participantes são 8 adolescentes acompanhados por Centro de Atenção Psicossocial infanto-juvenil (CAPSi), Brasil, que cometem ALNS de repetição. Os dados foram coletados individualmente em 2024, a partir de um questionário sócio demográfico e entrevista não diretiva áudio gravada sobre a experiência pessoal da ALNS no quotidiano. Os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo de Bardin e discutidos sob a perspectiva dos pressupostos de Mafffesoli. Os participantes tem entre 13 e 17 anos de idade, estão em tratamento psiquiátrico, frequentam escola, 6 se identificaram Feminino, 1 Masculino, 1 homem transgênero, os dois últimos acolhidos provisoriamente em instituição social. Cinco se identificaram brancos, 2 pardos, 1 preto. Narraram contexto sócio ambiental de violências, destacando-se experiências de bullying/ estigmatização e omissão do Estado. Familiares e outras referências afetivas para os participantes vivenciam, historicamente, ALNS. Diante de sua inaptidão para simbolizar o vivido e o imaginário, as marcas intencionalmente registradas na pele são carregadas de códigos de linguagem, pelos quais o adolescente pode comunicar sentimentos e pensamentos impronunciáveis, interditados ou ignorados nas relações, buscar ajuda, receber cuidado e minimizar violências intrafamiliares, uma vez que diante da ALNS e seus desdobramentos, os familiares modificam sua rotina e se implicam na vida dos participantes, que são, então, visibilizados e cuidados. Uma linguagem tribal que tem coesão no contexto sócio ambiental, determinando contornos necessários diante de laços sociais esgarçados. A ALNS se desvelou prática cultural de tribos urbanas pós modernas, desenvolvida na conectividade familiar e comunitária, que assegura aos participantes pertencimento e identidade coletiva para enfrentar a impessoalidade e alienação de uma sociedade excessivamente racional, insuportável para o adolescente contemporâneo. A ALNS nutre um sentido de comunidade entre tribos de adolescentes, na busca de formas de vida autênticas e significativas. Considera-se que o quotidiano de violências, vulnerabilidade das famílias, fragilidade da instituição educacional e de desproteção do Estado constituíram pano de fundo para o sofrimento psíquico e para ALNS neste público. Conclui-se que este conhecimento foi gerado a partir dos saberes dos próprios autores da ALNS, perspectivado a partir das contribuições conceituais de Maffesoli, que revelaram a ALNS enquanto problema social, fenômeno social polissêmico, sustentado pela sociedade pós moderna transpandêmica enquanto prática cultural. Pretende-se subsidiar a produção social do cuidado e da investigação em enfermagem e em saúde a partir da Razão Sensível e da sócio afetividade, fundamental para se fazer as leituras sociais compreensivas necessárias para promover saúde de adolescentes, suas famílias e sua comunidade, em todos os níveis de atenção, no contexto paradigmático da complexidade.

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Publicado

13-10-2024

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Pesquisa - Campus Chapecó