As DIFERENTES FACES DA VIOLÊNCIA EM CONCEIÇÃO EVARISTO

Resumo

O presente trabalho analisa a produção literária da escritora afro-brasileira Conceição
Evaristo, com o intuito de apresentar as diversas formas de violência enfrentadas pelas
protagonistas negras nos contos "Quantos Filhos Natalina teve?" e "Duzu-Querência",
presentes na obra Olhos d’água (2014), que conquistou o Prêmio Jabuti de 2015, na
categoria de contos e crônicas. Ao adentrar nas nuances das narrativas, o enfoque recai
sobre os matizes da violência, indo além da forma física para abranger também as
dimensões psicológica, sexual, patrimonial e moral. A literatura afro-brasileira tem por
objetivo abordar aspectos importantes das manifestações literária e cultural que, por
motivos de dominação ideológica, foram relegados a um segundo plano durante décadas
em nosso país. O corpus de investigação não se limita a elementos linguísticos intrínsecos
ao texto, mas também abarca imaginários sociodiscursivos que constituem o estilo de
escrita característico de Conceição Evaristo, denominado por ela como "escrevivência". A
escrita da autora faz parte da vertente da literatura afro-descentente que mescla a memória
individual e coletiva com a história não oficial. No conto "Duzu-Querença", o leitor se
surpreende ao deparar-se com a condição da personagem, uma moradora de rua com a
saúde fragilizada, constatando que não está sozinha nessa realidade. No conto "Quantos
filhos Natalina teve?", somos seduzidos pelo drama de uma mulher enfrentando a solidão,
uma batalha singular contra o mundo. Permanecendo constantemente na defensiva, ela se
viu confrontada precocemente com escolhas difíceis, deixando-lhe a responsabilidade
exclusivamente para si. A mulher, assumindo o papel de protagonista em sua própria
narrativa, desempenha a significativa função de contar histórias sob uma perspectiva
feminina. Essa abordagem, de compartilhar as narrativas com outras perspectivas, tem se
consolidado como uma das missões das escritoras inseridas no movimento da literatura
afro-brasileira. Ao dar destaque a essas vozes marginalizadas, esta análise engloba teorias
do feminismo negro, visando amplificar a importância da diversidade literária como
instrumento de denúncia contra as opressões racial e de gênero.