"DIZER A SUA PALAVRA"

AS VOZES DOS ATORES DOS PROCESSOS EDUCATIVOS SOBRE O NOVO ENSINO MÉDIO

Resumo

O Novo Ensino Médio (NEM), compreendido como uma política pública educacional instituída pela Lei Federal n° 13.415/2017, a qual altera disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), implementada nas escolas brasileiras que dispõem de tal nível de ensino desde 2022, é o eixo temático desta pesquisa. Com o intuito promover diálogos com e entre educadores e educandos de uma turma de terceiro ano do Ensino Médio de uma escola da rede pública estadual de ensino em Erechim/RS, de modo a preconizar suas percepções acerca do NEM, o estudo foi realizado entre os meses de abril e maio de 2024. Cumpre ressaltar que os participantes da pesquisa vivenciam as modificações referentes à carga horária e aos componentes curriculares inerentes ao NEM desde sua implementação, em 2022, quando estavam no primeiro ano do Ensino Médio. A primeira fase da pesquisa – documental – tomou a referida lei enquanto material de análise, o que viabilizou a identificação de alguns pontos destacáveis, como obrigatoriedade de apenas dois componentes curriculares: Língua Portuguesa e Matemática; disciplinas suprimidas em áreas do conhecimento; significativa redução nas cargas horárias de Arte, Educação Física, Sociologia, Filosofia, História, Geografia, Biologia, Física e Química, que passaram a ser ministradas de forma dispersa ao longo dos três anos, fragmentação a qual representa severos prejuízos à abordagem interdisciplinar e se afasta dos princípios da educação contextualizada e libertadora. Na sequência, a pesquisa de campo transcorreu por meio de dois encontros dialógicos, com duração de 75 minutos cada, em que pesquisadores (autores deste trabalho) e participantes da pesquisa (vinte e cinco educandos e quinze educadores do Ensino Médio da escola locus da investigação) pautaram sobre as transformações estruturais na educação brasileira desde a efetivação do NEM e partilharam, em um contexto de dialogicidade e ouvirtude, suas impressões, apreensões, angústias e experiências. Com inspiração na Pedagogia de Paulo Freire, tornou-se possível estar, não em uma escola, mas com uma escola, como o lugar que transcende sistematizações, definições, equipamentos e blocos cimentados e se materializa em gentes que criam laços de amorosidade e constituem-se, mutuamente, protagonistas dos processos educativos, condição elementar para uma postura crítica e reflexiva com vistas à cidadania emancipadora. Dos quarenta participantes da pesquisa, apenas uma educadora e dois educandos manifestaram-se, em ao menos um aspecto, favoráveis ao NEM. As interlocuções entre pesquisadores, educadores e educandos, registradas nas notas de campo dos pesquisadores, fizeram emergir relações entre a redução da carga horária referente a Humanidades, a inserção das disciplinas Projeto de Vida e Empreendedorismo, o neoliberalismo e a precarização do trabalho e convergem para o entendimento de que a escolha entre itinerários formativos, publicizada sob o slogan de flexibilização e liberdade, objetiva impingir aos eduandos uma opção profissional precipitada, técnica, que atende aos interesses do mercado de trabalho e, portanto, do capital, afastando-os, desse modo, da universidade, além de colocar escola e educadores em situação de desenvolver práticas às quais não estão preparados e/ou não possuem formação específica, o que assevera, também a precarização da profissionalidade docente.