SHERLOCK HOLMES EXISTE? UMA INVESTIGAÇÃO ARTEFATUALISTA DAS ENTIDADES FICCIONAIS
Palavras-chave:
Artefatualismo, filosofia da ficção, referência, entidades ficcionaisResumo
Esse trabalho explora como personagens ficcionais podem ser compreendidos através da teoria artefatual da ficção de Amie Thomasson, ou Artefatualismo, na qual personagens ficcionais são artefatos abstratos e culturais, assim como leis, contratos, nações e obras de arte. Para essa teoria, diferente de teorias irrealistas que negam a existência de entidades ficcionais, o Artefatualismo afirma que esses personagens realmente existem como entidades abstratas, criadas por meio da atividade humana. Por exemplo, embora haja uma demarcação física que determina o território do país Brasil, a nação brasileira é uma entidade abstrata que emerge e existe em virtude das ações concretas de indivíduos, mesmo que não seja possível indicar ela no mundo. Da mesma maneira, nenhum personagem ficcional existiria se ninguém nunca tivesse criado e contado histórias ficcionais; é precisamente por essas histórias terem sido criadas e contadas que eles passam a existir. Um artefato cultural é uma entidade que existe em virtude da ação concreta de pessoas. Portanto, ao utilizarmos o nome “Sherlock Holmes”, temos como referência uma entidade abstrata, que apesar de não podermos localizá-la fisicamente no mundo, existe, e da qual é possível levantar questões de suas propriedades e até mesmo pode-se perguntar sobre a existência de tais entidades. Dessa forma, o Artefatualismo oferece uma maneira de explicar como nomes ficcionais podem ter referência direta, seguindo a teoria referencialista de Kripke e, baseado nisso, como pode ser possível manter a identidade em discursos acerca de personagens ficcionais. Por exemplo, tanto Um Estudo em Vermelho, quanto O Vale do Medo tratam do mesmo personagem, Sherlock Holmes, apesar de serem obras distintas. Além disso, essa teoria permite dar conta da intuição de que certos proferimentos acerca de personagens ficcionais são verdadeiros, como “Sherlock Holmes é um personagem ficcional criado por Arthur Conan Doyle e apareceu pela primeira vez em Um Estudo em Vermelho”, enquanto outros são falsos: “Sherlock Holmes é um pirata que navegou os sete mares”. O Artefatualismo, portanto, oferece uma resposta positiva à pergunta ontológica sobre a existência de entidades ficcionais, tratando-as como artefatos abstratos que desempenham um papel significativo para a experiência humana e fornece uma estrutura teórica que explica como podemos fazer afirmações verdadeiras ou falsas sobre entidades ficcionais, sustentando que os nomes ficcionais têm referência consistente.
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